Por Caio Botelho
Desde a semana passada grandes mobilizações estão sacudindo o Brasil. Inicialmente se tratavam de protestos contra o aumento na tarifa de ônibus, metrô e trem na cidade de São Paulo, mas que se tornaram nacionais e resultaram em um movimento com imensa pluralidade de reivindicações, de todos os tipos. Um dos fatos que contribuíram para a multiplicação desses atos foi a indignação do povo com a truculenta reação da Polícia Militar do governo de Geraldo Alckmin, do PSDB, contra os que protestavam por um transporte público de qualidade.
Ainda é impossível fazer avaliações detalhadas sobre o que está acontecendo e, por vezes, sentimentos contraditórios chegam a ocupar lugar nos corações de muitos dos que, honestamente, desejam que as lutas de rua não sirvam à outros interesses senão o de garantir que o Brasil se torne uma nação mais justa. São em momentos como esses que a capacidade de compreender o contexto em que estamos inseridos é decisiva e o direito de errar deixa de existir.
Estamos diante das maiores manifestações que o Brasil presenciou em muitos anos, e nelas cabem de tudo: desde pautas avançadas até palavras de ordem que beiram o fascismo. E a esquerda, as organizações populares, as entidades estudantis e juvenis progressistas, qual posicionamento devem adotar?
Certamente não é o de abandonar a nossa juventude em um momento tão importante. Fazer isso é deixá-la se tornar massa de manobra da mídia e da direita, que sonham em ressuscitar a "Marcha da Família com Deus pela Propriedade", repetindo o roteiro que em 1964 desaguou no golpe militar que instaurou um trágico período de terror em nosso país. Acertadamente, entidades como a UNE, UBES e UJS optam por participar desse processo, buscando influenciá-lo.
O caminho, portanto, é a luta de ideias, é a disputa da consciência da sociedade e a participação ativa em cada um desses grandes atos, sempre com o objetivo de qualificar as reivindicações e dar consequência às mobilizações. Devemos lutar para abalar as velhas estruturas, para exigir mais mudanças, para elevar o grau de consciência política do povo, e isso tudo não combina com fazer o jogo da direita e, ainda que com um discurso aparentemente radical, jogar água no moinho dos conservadores.
Muitas inquietações são justas: nem tudo são flores no processo de organização da Copa das Confederações e do Mundial de 2014, embora se tratem de eventos importantes para o país; o governo Dilma precisa ter mais ousadia e colocar o pé no acelerador para promover mais mudanças; a corrupção em todos os níveis (não apenas na política) causa enorme prejuízo; e por aí vai. Nesse cenário, cabe aos setores avançados terem capacidade de dialogar com esses sentimentos, da mesma forma que cabe ao governo da presidenta Dilma encontrar caminhos que tragam mais transformações. Ficar parado e fingir que tudo isso não está a acontecer poderá trazer terríveis consequências à nação.
A tarefa não é fácil. Com o apoio da grande mídia, buscam desqualificar os partidos políticos de esquerda. Atacam as bandeiras que, no passado, ajudaram a derrotar a ditadura para que hoje nós pudéssemos viver um clima de maior liberdade. Hostilizam legendas que, no presente, participam das lutas populares. Nesse cenário, é preciso inteligência para não cair em provocações, mas sem deixar de defender os símbolos pelos quais muitos já tombaram.
Estamos a presenciar um jogo que ainda está aberto e cujo resultado ainda é impossível de precisar. Cabe às forças avançadas ter a capacidade de ensinar e aprender com essa juventude que, sem dúvidas, está mais uma vez a imprimir as suas digitais em nossa história.
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