ACM Neto (DEM), novo prefeito de Salvador |
Por Caio Botelho
Salvador possui um novo prefeito. E o sentimento de satisfação pelo fim do desastroso governo de João Henrique mistura-se com uma certa apreensão pela realidade que nos aguarda com o novo chefe do executivo municipal, ACM Neto (DEM). Afinal de contas, o campo político que governa a capital baiana desde o início deste ano está longe de representar algo novo e merecedor de algum crédito por parte dos soteropolitanos.
Pelo contrário: são os mesmos que já governaram a Bahia por quase quarenta anos praticamente ininterruptos, e que deixaram como herança um estado com alguns dos piores indicadores sociais do Brasil, um histórico de truculência no trato com o povo e uma vasta rede de corrupção que originou grandes fortunas, a começar pelo antigo chefe desse grupo, o ex-senador Antônio Carlos Magalhães, que chegou a possuir um patrimônio estimado em cerca de R$ 400 milhões, mesmo nunca tendo exercido nenhuma atividade profissional senão a de político.
ACM Neto, portanto, não tem nada a ver com o "novo". É o herdeiro da citada fortuna originada a partir da exploração do povo baiano e o continuador de uma corrente política que luta para manter-se após sucessivas derrotas. O novo prefeito faz parte do DEM, partido de direita originário da antiga ARENA - que sustentou a ditadura militar - e que defende as posições mais atrasadas possíveis: são contra as cotas e as políticas afirmativas, opõem-se a programas como o ProUni e Bolsa Família, defendem as privatizações, a mercantilização do ensino e o corte de investimentos nas áreas sociais. Fazem oposição aos avanços que o Brasil experimentou nos últimos dez anos. Estão, definitivamente, na contramão da história.
Nesse sentido, fazer oposição ao novo prefeito nada tem a ver com torcer contra a cidade, mas significa compreender que a participação da sociedade na vida do município deve ir muito além do processo eleitoral e que a luta política que se trava em Salvador faz parte de uma disputa muito maior que, em última instância, relaciona-se com os rumos do projeto mudancista em curso no país. ACM Neto é o prefeito legítimo, eleito democraticamente pela maioria dos eleitores, mas isso não significa que uma parcela da população perca o direito de não sentir-se representada por ele e seu partido.
A julgar pelas primeiras ações anunciadas, a tendência é que Neto faça um governo parecido com o do ex-prefeito Antônio Imbassahy (PSDB), com investimentos nos bairros nobres e muito gasto com propaganda, o que pode, inclusive, lhe render índices razoáveis de popularidade. Por outro lado, a periferia, onde vive a maioria esmagadora do nosso povo, deve continuar a sofrer com o abandono do poder público municipal.
Remar contra a maré e combater o senso-comum não são tarefas fáceis, mas a história anda ao lado destes e, muitas vezes, apenas o tempo pode comprovar a justeza de suas posições.
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