O governo federal não anda satisfeito com a maneira como o futebol brasileiro - e o esporte, de modo geral - tem sido administrado no País. E promete agir. A ideia é montar um grupo que reuniria ex-dirigentes e personalidades ligadas ao esporte para elaborar um novo conjunto de normas e diretrizes que regulamentaria a gestão de clubes, federações estaduais e até mesmo da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Tudo sob a batuta do Ministério do Esporte.
Um dos aspectos que mais têm incomodado o governo é a perpetuação de cartolas no comando destas entidades. Períodos de 10, 15, 20 anos de uma pessoa na mesma cadeira são considerados abusivos. "Se até para a presidência da República existe um limite de reeleição, por que clubes e federações não teriam este tipo de limitação?", questiona o ministro do Esporte e um dos principais entusiastas da proposta, Aldo Rebelo (PCdoB), em visita realizada ontem ao Estado.
Rebelo não cita nomes, mas dá a entender nas entrelinhas que os dois principais exemplos do cenário que o governo pretende evitar são o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira, que permaneceu no cargo durante 23 anos (renunciou há pouco mais de um mês), e o atual presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio, que está no terceiro mandado de três anos, embora contestado pela oposição. "É complicado ver um presidente de clube ter seu mandato questionado na Justiça."
O primeiro nome que o ministro gostaria de ver no grupo é o do ex-presidente do Palmeiras Luiz Gonzaga Belluzzo. "Já fizemos um primeiro contato. Seria importante ter pessoas como o Belluzzo no grupo", disse Rebelo.
A ingerência do governo na administração dos clubes e federações sempre causou pesadelos aos dirigentes. Muitos cartolas argumentam que, por serem entidades privadas, como o caso das federações, o governo não poderia interferir. Aldo discorda: "Ora, se recebem verba pública, precisam prestar contas ao governo", argumenta. "Mas vocês acreditam que algumas federações preferem parar de receber verbas do governo só para não precisarem prestar contas?"
Jérôme Valcke
O secretário-geral da Fifa não é o assunto preferido de Rebelo. No entanto, o ministro garante que não ficou desconfortável com o fato de a Fifa manter o suíço como seu interlocutor com o governo brasileiro mesmo depois de Aldo, por meio de carta enviada à entidade, dizer que não aceitaria mais esta interlocução após a história do "chute no traseiro". "Claro que foi uma grosseria sem propósito. Mas houve dois pedidos de desculpas. Para mim, este assunto está superado. Faz parte do passado", garantiu.
Lei Geral da Copa
O ministro atribuiu parte do atraso na aprovação da Lei Geral da Copa, que motivou a reação destemperada de Valcke, ao acerto de detalhes que, no fim, fazem toda a diferença. "Na verdade, a Fifa tenta passar todo tipo de custo que ela puder para o governo. Quanto menos ela gastar, maior será o lucro", afirmou. "Imagine a seguinte situação: você faz um acordo comigo. Em troca de uma entrevista, você promete um jantar. Até aí tudo bem, dou a entrevista. Só que, no momento de cobrar o jantar, digo que quero o restaurante mais caro da cidade. Quem tem razão? Esses detalhes precisam ser acertados antes."
Copa 2014
Para o ministro do Esporte, "dificilmente a seleção brasileira não vencerá a Copa do Mundo de 2014". De acordo com Aldo Rebelo, "é impressionante o número de bons jogadores à disposição. Os de defesa são os melhores do mundo e no ataque tenho uma esperança muito grande no Lucas e no Neymar", analisou.
Olimpíada 2016
Aldo Rebelo defende a reestruturação do esporte na base, sobretudo nas escolas. Porém, com os Jogos de 2016, no Rio, batendo à porta, o ministro está preocupado também com a posição do Brasil no quadro de medalhas. "Temos um trabalho detalhado que mostra as chances de medalha de cada modalidade. E estamos em contato com cada federação para sabermos o que é possível fazer para melhorar a condição de preparação destes atletas", afirmou. "Temos a preocupação em fomentar o esporte e em aproveitar a realização da Olimpíada no Brasil para difundir a prática esportiva. Mas não abrimos mão de medalhas. Queremos ser reconhecidos pela capacidade de organização e também pelo quadro de medalhas."
Fonte: Estado de São Paulo
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