segunda-feira, 12 de março de 2012

A esquerda no governo: alternativa ou reciclagem?

O livro “A esquerda latino-americana no governo: alternativa ou reciclagem?” Ocean Sul, 2012), do cientista político cubano Roberto Regalado, foi lançado na Casa da Alba Cultural, em Havana, na última quarta-feira (7), com uma palestra de Osvaldo Martínez, diretor do Centro de Pesquisas da Economia Mundial; Gilberto Valdés, coordenador do Grupo Galfisa do Instituto de Filosofia, e o próprio autor.

Transcorridos treze anos desde a primeira eleição de Hugo Chávez à presidência da Venezuela e com mais de uma dezena de governos na América Central e América do Sul considerados de esquerda ou progressistas, já não basta falar de «novos» movimentos sociais e da “busca” de alternativas de esquerda.

No livro, o autor acentua a necessidade de “perguntar-nos em que medida os «novos» movimentos sociais ultrapassaram o estágio dos protestos e desenvolveram a capacidade de lutar por uma transformação revolucionária; e quais são as probabilidades de que os governos de esquerda percorram o rumo da edificação de sociedades «alternativas» ou se convertam em um parêntesis que contribua para a reciclagem da dominação do capital”.

Regalado entende que “ambas as possibilidades coexistem e a balança se inclinará, para uma ou outra direção, na medida em que as forças de esquerda sejam capazes de desenvolver a teoria da revolução social e de derivar dela objetivos, estratégias e táticas, independentemente de se está fazendo esta luta na oposição ou no governo”.

O economista cubano Osvaldo Martínez destacou que “A esquerda latino-americana no governo é “um livro muito necessário, que contribui para preencher um déficit de pensamento teórico e analítico”. Advertiu que nas circunstâncias atuais, em Cuba “se dá o paradoxo de que somos uma revolução no poder, contamos com o legado de pensamentos extraordinários como o do Che e o de Fidel; contudo, não creio que entre nós se esteja produzindo um pensamento analítico”.

Martínez celebrou que “o autor joga limpo”, em referência à primeira parte do livro ―que qualificou de “excelente”―, intitulada «Precisões conceituais», pela qual “temos que agradecer-lhe como mostra de honradez”, já que é um exercício de “pôr as cartas sobre a mesa” antes de desenvolver as teses do livro, que se tornam “uma análise muito completa”.

Na opinião de Martinez, “vivemos cenários de luta não decidida” e “A esquerda latino-americana no governo… é capaz de “dar-nos uma caracterização desses cenários e obrigar o leitor a pensar”, o que consagra o livro como “uma importante contribuição ao debate sobre nossa região”.

Por sua parte, o filósofo Gilberto Valdés se perguntou, diante das atuais estratégias de “desneoliberalização” no Cone Sul, “até onde existe alternativa anticapitalista ou reacomodação do capital?”. Ele sublinhou que este novo livro de Roberto Regalado “nos ordena a desafiar os obstáculos político-epistemológicos, derivados do pensamento dicotômico (‘isto ou aquilo’) na hora de apreender estas novas realidades”.

“Impõe-se, pois, ― agregou Valdés―, a necessidade de facilitar agendas de discussões honestas entre os governos de esquerda e as vertentes do movimento social popular sobre a construção do novo poder e a nova hegemonia antineoliberal, com horizonte anticapitalista”.

Ao qualificar a obra como “livro-caleidoscópio”― por sua capacidade de entrelaçar “múltiplos elementos imprescindíveis” para abordar problemas de suma complexidade ―, o também pesquisador do Instituto de Filosofia disse que Regalado “integra saberes históricos, de teoria social e política, de indagação econômica que se articulam mediante uma linguagem acessível completamente ajustada a seus propósitos de partida”.

Agregou que em suas páginas o autor “não embeleza a realidade”, mas “sabe […] que o capitalismo se reciclou; retornou com o neoliberalismo ao capitalismo selvagem no marco do capitalismo monopolista transnacional, mas não retornaram as condições históricas para repetir de igual modo o ciclo anterior de resistências, reformas e revoluções”.

Assinalou então que “reverter a correlação de forças atual requer elaborar um projeto político alternativo ao neoliberalismo e ao capitalismo sem as receitas do passado”. O desafio é “assumir o tempo político dos movimentos sociais populares”, propôs.

Gilberto asseverou que “o texto substancioso” que é “A esquerda latino-americana no governo: alternativa ou reciclagerm?” leva-nos a inferir que estamos em um período no qual urge “pensar e projetar, de acordo com o centro de gravidade político de cada país e região, as novas estratégias da libertação e da emancipação em nossa América”.

“Todos os que nos nutrimos durante anos de seus estudos teóricos e suas apreciações e prognósticos políticos certeiros temos neste novo livro de Roberto Regalado inspirações inovadoras que não devemos deixar escapar se queremos ampliar os olhares de nossos estudos. Porém, mais importante ainda, será fazer chegar o livro aos jovens que começam com avidez a desejar e pensar que as emancipações são não só necessárias, mas possíveis”, concluiu.

O autor do livro agradeceu as “palavras elogiosas” de Martínez e Valdés sobre o livro e o resumiu como a cristalização de “experiências, vivências e opiniões depois de 40 anos de trabalho. 

Roberto Regalado anunciou para breve o lançamento de outro livro, do qual é coordenador: “A esquerda latino-americana a 20 anos da queda da União Soviética, também publicado pela editora Ocean Sur.

Fonte: www.oceansur.com

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