Por Eduardo Guimarães, no Blog da Cidadania:
Não faz muito tempo, li no portal do jornal O Estado de São Paulo na internet um artigo de uma das marionetes dos barões da imprensa atacando o que chamou de “jornalismo cidadão”. O sujeito dizia que blogs como este não teriam qualidade jornalística, não checariam informações como a grande imprensa, e que, portanto, não seriam confiáveis.
Naquele momento, a primeira coisa que me veio à mente foi a ficha policial falsa que o jornal Folha de São Paulo recebeu por e-mail de fonte anônima há alguns anos e publicou no alto de sua primeira página, com o maior destaque possível. Fiquei me perguntando como alguém pode ser tão cara-de-pau a ponto de dizer que uma imprensa que faz isso seria mais confiável.
Para fortalecer sua teoria, o teleguiado da família Mesquita usou como “exemplo” de sua tese notícias veiculadas por blogs sobre desaparecidos durante o massacre do Pinheirinho. O tal “blogueiro” do Estadão mentiu dizendo que blogs anunciaram mortes, quando anunciaram desaparecimentos.
O fato é que a blogosfera tem sido um exemplo de bom jornalismo, pois quando erra faz suas reparações e permite espaço ao contraditório de suas diversas linhas editoriais, contraditório esse que a grande imprensa nega a quem dela diverge.
Se checagem rigorosa de informações for evidência de bom jornalismo – e é, apesar de não ser a única –, a mídia da ficha falsa da Dilma ou do grampo sem áudio no STF agora tem mais um passivo, a morte iminente de Hugo Chávez que começou a ser anunciada em janeiro e que na última quinta-feira (16) foi endossada, sem checagem, pelo “imortal” Merval Pereira.
Leia, abaixo, post de Merval em seu blog no qual “mata” Hugo Chávez.
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Blog de Merval Pereira
16.02.12
Quadro grave
A saúde do presidente Hugo Chávez, da Venezuela, pode afetar a eleição presidencial. Os últimos exames, analisados por médicos brasileiros, indicam que o câncer está em processo de metástase, se alastrando em direção ao fígado, deixando pouca margem a uma recuperação.
Como a eleição presidencial se realiza dentro de 8 meses, a 7 de outubro, dificilmente o presidente venezuelano estaria em condições de fazer uma campanha eleitoral que exigirá muito esforço físico, pois a oposição já tem em Henrique Capriles um candidato de união.
O ex-embaixador dos Estados Unidos na OEA, Roger Noriega, invocando informações de dentro do governo venezuelano, escreveu artigo recentemente no portal de internet da InterAmerican Security Watch intitulado “A Grande mentira de Hugo Chávez e a Grande Apatia de Washington”.
Nesse artigo ele dizia que o câncer está se propagando mais rapidamente do que o esperado e poderia causar-lhe a morte antes mesmo das eleições presidenciais.
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Em primeiro lugar, que “Exames analisados por médicos brasileiros” são esses? Quem são os tais “médicos brasileiros”? Como os tais “exames” foram obtidos? A mídia que acusa blogs de não checarem informações, ignora cuidados mínimos ao divulgar uma notícia dessa gravidade, que, sendo verdadeira, teria implicações estrondosas na geopolítica das Américas.
Merval não checou nada e ainda trocou as bolas. Confundiu matérias que saíram em órgãos de imprensa espanhóis e norte-americanos que fazem oposição cerrada a Chávez com uma notícia divulgada pela “Folha.com” em julho do ano passado. Veja a matéria, abaixo:
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Folha.com
19/07/2011
Exames mostram que Chávez tem câncer de próstata, dizem médicos
Profissionais brasileiros que tiveram acesso aos exames de Hugo Chávez dizem que o presidente venezuelano tem câncer de próstata.
A informação é da coluna de Mônica Bérgamo publicada nesta terça-feira na Folha e cuja íntegra está disponível para assinantes do jornal e do UOL, empresa controlada pelo Grupo Folha, que edita a Folha.
A informação, contudo, não foi confirmada pelo urologista Miguel Srougi, especialista em câncer de próstata que foi chamado para a reunião com os diplomatas venezuelanos.
Ele prefere manter o silêncio para evitar falhas e diz que Chávez “fez muito bem” de ir para Cuba, onde terá a intimidade preservada.
Chávez revelou ter câncer em 30 de junho, após semanas de especulação, em uma mensagem lida em rede nacional em Havana, onde deveria encerrar uma turnê de visitas iniciada no Brasil no começo do mês.
Menos de quatro dias depois do anúncio da doença, Chávez retornaria de surpresa a Caracas, às vésperas do aniversário de 200 anos do país.
Naquele momento, ele anunciou ter feito duas cirurgias em Cuba –uma delas para a retirada de um tumor. Chávez não informa que órgãos ou tecidos foram atingidos pelo câncer nem qual seu estágio. Negou, porém, que a doença tenha atingido o cólon ou o estômago.
A coluna de Bergamo de sábado (16) já apontava indícios de lesão na próstata do presidente venezuelano, mas ressaltava que mais exames eram necessários.
Até semana passada, tudo indicava que Chávez viria ao Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, para fazer sessões de quimioterapia contra seu câncer, como fez seu colega paraguaio, Fernando Lugo, que sofreu de câncer linfático no ano passado.
No sábado (16), contudo, Chávez chegou à Cuba, onde informou que deseja seguir o tratamento quimioterápico para câncer. Ele não descartou uma visita futura ao Brasil, no entanto.
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Além de preguiçoso – ou mal-intencionado – ao checar informações, Merval nem soube identificar a origem de boatos que pretendem apenas desestabilizar, tanto na Venezuela quanto no exterior, a candidatura de Chávez à reeleição.
Quem saiu primeiro com essa história de metástase do câncer de próstata do líder venezuelano foi o diário norte-americano Wall Street Journal, em novembro do ano passado. Diz o “journal”:
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Os relatórios, com base em entrevistas com pessoas que tiveram acesso à equipe médica de Chávez, alimentam rumores recentes de que o homem que governa a Venezuela desde 1999 não será saudável o suficiente para disputar a reeleição em outubro, potencialmente jogando o futuro político do país em dúvida.
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No final do mês passado, o diário espanhol “ABC”, que faz oposição a Chávez – bastando, para comprovar, fazer busca de seu nome no sítio do veículo, onde se constatará uma impressionante artilharia contra ele –, publicou matéria anunciando que o venezuelano teria um ano de vida a menos que aceite um tratamento intensivo.
O artigo do ex-embaixador dos Estados Unidos na OEA Roger Noriega, invocado por Merval, baseia-se nas mesmas invenções sobre “médicos” que teriam “analisado exames” de Chávez e concluído que seu câncer estaria se espalhando rapidamente.
Chega a ser ridículo achar que médicos brasileiros, espanhóis e americanos teriam tido acesso livre a exames de um Chávez que nega peremptoriamente que sua doença tenha se agravado e que certamente toma todos os cuidados com informações sobre a própria saúde.
Aliás, não se entende de que adiantaria um homem que tem menos de um ano de vida disputar uma eleição. Sendo eleito em outubro, se seu estado de saúde moribundo fosse real ele não viveria para assumir o cargo. Teria que estar louco para se meter em tal empreitada sabendo que mesmo vencendo a eleição seria derrotado.
A estratégia da direita midiática internacional é óbvia: acha que pode fazer o povo venezuelano deixar de votar em Chávez com medo de que ele morra e deixe o país acéfalo.
Chávez praticamente não deu bola a uma notícia que já corre o mundo há semanas e que chega atrasada ao Brasil. Aliás, fez troça. Mas os mervais e os PIGs espalhados pelo mundo mergulharam de cabeça no que julgam um filão, cheios de esperança que estão no candidato com que a direita venezuelana deve tentar retomar o poder, o tal de Henrique Capriles.
Se essa direita midiática não fosse tão preguiçosa e tivesse se dado ao trabalho de fazer o que este blogueiro fez muitas vezes ao incursionar nos “cerros” (morros) de Caracas, desjejuando arepa (espécie de pão sírio), suero (coalhada) e té (chá) enquanto ouvia o verdadeiro povo venezuelano, entenderia o que jamais entendeu.
Chávez não é causa, é consequência. Assim como Evo Morales, Rafael Correa, Lula e outros presidentes progressistas que decorreram da onda de governos de esquerda que na década passada varreu a América Latina, ele é o braço político do povo. Se morresse, o povo acharia um substituto.
Essa gente não entende que a morte de Chávez o transformaria em um mártir e permitiria ao seu partido eleger qualquer poste, sem falar na fúria que seria desencadeada entre a imensa maioria de venezuelanos que o apóia com a alma não por ele mesmo, mas porque é o campeão que aquele povo encontrou para reverter a concentração de renda que esmagou a Venezuela por décadas.
O povo venezuelano já está escolado. Em cada uma das sucessivas eleições que Chávez venceu sem que houvesse um único questionamento sério e reconhecido, até a antevéspera de cada um daqueles pleitos a direita midiática sempre disse que daquela vez ele estaria derrotado por antecipação.
Chávez não está moribundo, quem está é essa direita demente que jamais entendeu que ao menos nesta parte do mundo os povos já sabem que não podem permitir que ela volte a governar até que o mal que perpetrou ao longo de séculos seja desfeito. Chávez, portanto, viverá para assistir ao enterro político dessa gente.
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