Por Jaime Sautchuk*
A 4ª Frota da Marinha dos Estados Unidos tem agido na região petrolífera brasileira do pré-sal, com navios que ficam bisbilhotando as operações em plataformas da Petrobrás. São ações ostensivas, a céu aberto, sem dar explicações ao governo brasileiro.
Esta está sendo interpretada pela Petrobrás como uma das ações estadunidenses para absorver a tecnologia que a empresa detém de prospecção em águas profundas. Outro caminho é o de técnicos que trabalham em empresas dos EUA contratadas para prestar serviços em plataformas brasileiras.
Um amigo meu, que é geólogo da Petrobrás, voltou semana passada do poço Iracema, na Bacia de Santos, e conta que um porta-aviões da Marinha estadunidense esteve fundeado ao largo durante quatro dias. No maior descaramento, sem dar explicações.
Ele revela que a embarcação militar, repleta de aviões, ficou perto o suficiente para se ver as pessoas em movimento em seu convés. Aparentemente, eles ficam com sofisticados binóculos e sonares bisbilhotando a ação dos técnicos na plataforma.
Esta plataforma tem uma estrutura convencional, como uma centena de outras que a estatal brasileira mantém em nosso mar territorial. Sua torre principal tem uma altura de mais ou menos 100 metros, a partir da água. Sua parte operacional está a 30 metros da água. Os equipamentos submersos atingem cerca de 2.000 metros de profundidade.
A população da plataforma é de cerca de 120 pessoas. Mesmo os encarregados das tarefas mais braçais são técnicos com alguma especialização. A vida na plataforma é regrada, com normas que se assemelham às dos navios, sendo que um funcionário, ali, ganha 120% a mais do que em terra.
As tarefas de maior risco, em águas profundas, hoje já são realizadas por robôs. Mesmo soldagens em tubos, fixação de redes, tudo enfim em áreas de risco, hoje dispensa a presença humana. Eram tarefas que encurtavam a vida dos profissionais, submetidos a longas jornadas, com lenta entrada e saída no mar, mais quarentena na saída.
Há, de qualquer modo, a suspeita de que mergulhadores do porta-aviões tenham feito incursões por toda a área. Interpelado, o comandante do porta-aviões informou que a embarcação estava em operação de exercícios de treinamento. O que ele não explicou é por que, num baita oceano, fazer esses exercícios nas proximidades de uma plataforma de petróleo.
Vale lembrar que o Pentágono questiona os limites das águas territoriais brasileiras. O pré-sal é, em verdade, a nova Arábia Saudita, ou seja, o futuro do petróleo no mundo. Com a vantagem de que o Brasil é que detém a tecnologia para sua exploração. Mas os limites são contestados e isto pode explicar a presença de agentes ianques na região.
No entanto, a Petrobrás contrata muitas empresas estrangeiras para a operação das plataformas. Essas empresas trazem exigências que chegam ao regime alimentar dos funcionários. Disso, advêm cozinhas com o paladar estadunidense, estilo McDonald, em detrimento da farofa e carne de sol.
Esses técnicos são, em verdade, outros captores de tecnologia e reivindicam estilos de vida ao seu gosto. Nesse aspecto, porém, os brasileiros acabam impondo seu jeito, de modo que as cozinhas passam, em muitos casos, a seguir a culinária brasileira. Na área técnica, porém, em boa parte o controle é dos gringos.
Esses são apenas alguns exemplos, comprovados. O que está ocorrendo no conjunto da obra é muito mais. É só aguardar para ver.
* Trabalhou nos principais órgãos da imprensa, Estado de SP, Globo, Folha de S.Paulo e Veja. E na imprensa de resistência, Opinião e Movimento. Atuou na BBC de Londres, dirigiu duas emissoras da RBS.
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