Por Bepe Damasco, em seu blog:
De cara, reproduzo uma conversa presenciada por mim, na manhã tórrida de verão desta quinta-feira (26 de fevereiro) , entre um atendente de uma lanchonete da Zona do Sul do Rio e um típico representante da classe média antipetista e reacionária.
Trabalhador: Oi doutor, tudo bem? Este ano vai ser difícil para todo mundo, não é? Tem um professor da PUC que frequenta aqui que disse que quem tem algum dinheirinho não deve investir em nada. É melhor esperar para ver para aonde vai o país.
Coroa coxinha: É, com tanta roubalheira fica difícil. Os caras não têm limites para roubar. Nunca vi coisa igual. O resultado é que este ano as contas de luz vão disparar de preço.
Trabalhador: Eu sempre gostei e votei no PT, mas estou decepcionado. O partido virou uma quadrilha. Na Rocinha, onde eu moro, o pessoal até encarna em mim, me chamando de petista.
Coroa coxinha: Ainda bem que eu nunca votei.
Trabalhador: Também um partido que tem Palocci, Zé Dirceu e Dilma, tudo ladrão ...
Coroa coxinha: E todos eles nunca trabalharam antes de entrar para a política. Eram vagabundos.
Desisti, por motivos óbvios, de pedir uma água de coco neste estabelecimento e segui adiante na minha caminhada matinal. Impossível não refletir em seguida sobre o estrago causado na imagem do PT, do governo e da esquerda por anos a fio de não enfrentamento do monopólio midiático. O preço de os governos do PT não levarem a discussão da regulação da mídia para a sociedade em termos concretos e objetivos, de continuar financiando os inimigos com verbas publicitárias bilionárias, e de não ter uma política de comunicação organizada e contundente para se contrapor ao PIG, é alto.
A direita está assanhada como há muito não se via, afiando as garras do golpe à luz do dia. O diálogo que reproduzi acima contribui para jogar por terra uma avaliação equivocada muito comum entre os analistas ligados à esquerda : não é verdade que o rombo na imagem do PT e do governo seja um fenômeno político limitado apenas aos estratos médios e abastados da sociedade. Infelizmente, como se viu na campanha eleitoral e agora se agrava, transbordou em direção à classe média baixa e aos pobres.
A crise é grave. Oxalá o grande ato em defesa da Petrobras sirva para alavancar os movimentos social e sindical. Que a manifestação seja apenas a primeira de uma série de mobilizações em defesa da maior empresa brasileira e da democracia. Essa campanha pode dar liga. Contudo, faz parte da cultura do nosso país a personificação da atividade política. No Brasil, não há movimentos vitoriosos sem lideranças fortes.
Por isso, se constitui um trunfo e tanto contar com um líder de massa como Lula, o melhor presidente da história do Brasil, segundo todas as pesquisas feitas desde que saiu do governo, do lado de cá da trincheira. Mas é preciso que o bravo Lula assuma de fato a liderança de um movimento nacional pela democracia. Talvez seja pedir demais para alguém que, aos 68 anos, dedicou uma vida inteira às boas causas do povo brasileiro.Sem falar que ainda tem de cuidar da saúde e se preservar para 2018.
Sem dúvida, é um sacrifício. Contudo, a liderança de Lula contra a sanha golpista é imprescindível, na linha do discurso feito por João Pedro Stédile na ABI : "Lula, retome as caravanas pelo país, nos lidere em defesa do Brasil que nós te seguiremos."
Ficaremos te devendo mais essa, presidente.
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