Editorial do jornal Brasil de Fato:
O governo Dilma está numa encruzilhada. E o caminho que escolher vai definir não apenas os quatro anos de seu mandato, mas também antecipará os resultados de 2018.
A classe dominante brasileira e a direita saíram das eleições com mais força política e social. Não só pela vitória apertada da candidatura Dilma no segundo turno, mas por outras situações criadas.
Eles aumentaram o controle sobre Congresso, as dez maiores empresas sozinhas elegeram 70% dos parlamentares. Aumentaram o controle ideológico sobre o poder Judiciário, que age claramente em favor dos seus interesses. Vejam os exemplos patéticos do comportamento do Judiciário, que perderam completamente o que deveria ser uma postura republicana: a ação do ministro Gilmar Mendes de impedir a votação, já perdida por seis votos a um, da Medida que proibiria o financiamento das empresas nas campanhas, ainda em 2014; a diplomação de Paulo Maluf e a tentativa de aumentar seu mandato vitalício do limite de 70 para 75 anos!
Por outro lado, a mídia passou a ser o principal instrumento ideológico da direita, que faz campanha diária, permanente, de sua visão de mundo, iludindo a população, e o pior, continua recebendo milionárias verbas publicitárias do próprio governo que as sustenta.
Na economia continuam impondo sua pauta de manter juros altos, taxa de câmbio inadequada e ganhando dinheiro com o rentismo, em vez de investir na produção.
Essa classe dominante, com seus partidos e ideologias vão tentar impor ao governo todo dia, a adoção de medidas neoliberais que favoreçam ao capital e prejudicam os trabalhadores e o povo.
Se o governo seguir esse caminho de atender as pautas da direita, seria a derrota política "no terceiro turno", em que ganha as eleições mas aplica o receituário do perdedor.
O segundo caminho é seguir o mesmo receituário do neodesenvolvimentismo, aplicados de 2003 para cá, e que na opinião dos movimentos sociais se esgotou. Se esgotou porque não é possível resolver os problemas do povo apenas administrando o orçamento da União. E agora é necessário medidas que, para resolver os problemas, afetam os interesses da classe dominante. Por isso, parte da burguesia e da classe média (médicos, professores universitários, comerciantes etc.) já abandonaram o barco do governo. Ou seja, não há mais espaço para um governo de conciliação de classes. E se o governo optar por esse caminho “do mais do mesmo”, não conseguirá atender as demandas dos trabalhadores e perderá rapidamente sua base social, que a elegeu no segundo turno. Assim, correrá o risco de ter manifestações contra o governo, de parte da direita (que já estão na rua) e de parte dos trabalhadores, se tornando um governo de crise permanente e sem sustentação social.
O terceiro caminho é escolher o lado da grande maioria da população, dos pobres e dos trabalhadores. E ter a ousadia de fazer um governo que priorize a solução dos problemas do povo e adotar medidas que afetam os interesses da classe dominante. Esse caminho implica num compromisso de estimular a reforma política através da convocação de uma assembleia constituinte, para que o povo passe a limpo o modelo político. Uma reforma nos meios de comunicação que quebre o atual monopólio da Globo, Veja etc.
Uma reforma tributaria que penalize os que ganham mais e não os trabalhadores como agora. A mudança do superávit primário, para que os recursos ora destinados ao pagamento dos juros aos bancos (cerca de R$ 200 bi ao ano) sejam redirecionados para aplicação em educação, saúde e infraestrutura social nas grandes cidades. Retomada da reforma agrária que foi abandonada nos últimos quatro anos, e um amplo programa de moradia popular e de universalização do acesso dos jovens à universidade.
Seria o caminho em que o governo atende os clamores dos que a elegeram, na esperança de mais mudanças, como foi prometido. Mudanças caracterizadas por reformas estruturais que mudem a vida do povo.
O governo tem os próximos meses para demonstrar qual dos três caminhos escolheu.
Da parte dos movimentos sociais, não há caminhos a escolher, há a missão de organizar permanentemente o povo, e realizar luta social, para que através da pressão, das mobilizações se consiga avançar nas conquistas da solução dos problemas do povo.
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