sábado, 6 de dezembro de 2014

Eu sou Estádio, e não Arena

Antiga Fonte Nova lotada em jogo do Bahia
Por Caio Botelho

A frase acima foi retirada de um dos cantos entoados pela Torcida Organizada Bamor, do Esporte Clube Bahia. Sintetiza, de certo modo, o sentimento de que o modelo de Arenas adotado principalmente para atender as exigências da Copa do Mundo não logrou êxito quando o assunto foi a popularização do acesso a esses equipamentos.

O que é no mínimo contraditório, considerando que o futebol é justamente o esporte mais popular em nosso país. Entretanto, até a 37ª e penúltima rodada do Campeonato Brasileiro de 2014, a média de público é apenas de 16.451 torcedores por jogo, com uma ocupação de 40% da capacidade dos estádios por partida¹.

Mesmo o Cruzeiro, campeão do ano e que detém a maior bilheteria por jogo (28.780 torcedores), não ocupa mais do que 47% do Mineirão, cuja lotação é de 61.846 lugares. Já o Flamengo, por sua vez, preenche um pouco mais de um terço (35%) da capacidade de 78.838 lugares do Maracanã.

São dados preocupantes, na medida em que se constata que o problema não é de falta de torcida. Mesmo os clubes mais populares, conhecidos pela capacidade de mobilização, estão com dificuldades para repetir com frequência o outrora costumeiro espetáculo de suas torcidas nas arquibancadas.

Jogando pela Série C do Campeonato Brasileiro, o Bahia, por exemplo, colocou nada menos do que uma média de 50 mil torcedores por jogo (!) na antiga Fonte Nova, no ano de 2007. Hoje, com a nova Arena Fonte Nova e jogando na Série A, a média do tricolor baiano não chega a 13 mil torcedores por jogo – e ainda assim representa a 11ª maior bilheteria do campeonato. O problema, portanto, não é desse ou daquele Clube, isoladamente.

Além de afastar o público, os ingressos caros também produzem um fenômeno que enfeia as arquibancadas, já que na medida em que os torcedores brasileiros estão tendo que se acostumar a assistir os jogos atrás do gol, onde os ingressos são mais em conta (o que não significa que sejam baratos), uma emblemática imagem que traduz esse modelo de Arenas é produzida: as arquibancadas de linha de fundo completamente lotadas, ao tempo em que as arquibancadas laterais ficam vazias, quase às moscas.

Sem contar que uma série de exigências peculiares dessas Arenas vão retirando a espontaneidade típica do brasileiro. As divisões em diversos setores fracionam a torcida (principalmente por renda), e não apenas os ingressos, mas as bebidas e alimentos também estão cada vez mais caros.

A modernização dos Estádios é fundamental para que o próprio futebol evolua, mas é preciso encontrar modelos que cumpram com essa finalidade sem excluir a maioria do povo do direito de assistir in loco ao seu Clube de coração. Mantida a lógica atual, o cenário que se vislumbra é perverso.

Claro que esse é apenas um dentre vários elementos que precisam ser considerados em um amplo processo de discussão sobre os rumos do esporte mais popular do Brasil. Afinal, outros fatores também vêm contribuindo para o constante processo de elitização do nosso futebol: más gestões na imensa maioria dos Clubes; CBF e Federações estaduais transformadas em feudos; a mídia – com destaque para a TV Globo – interferindo descaradamente nas tabelas e privilegiando alguns times em detrimento de outros; além, é claro, de inconfessáveis máfias envolvendo todos esses agentes.

O fato é que tem muita coisa errada. E o governo federal, as torcidas organizadas independentes, grupos e movimentos que se organizam em torno de Clubes e de um debate sério sobre o futebol, a exemplo do “Bom Senso”, precisam articular-se e construir uma ampla mobilização em defesa dessas pautas.

Eleições no Bahia


Considerando que não teremos outra oportunidade para tratar do assunto, aproveito para manifestar nossa posição nas eleições presidenciais do Esporte Clube Bahia, que acontecerá no dia 13 de dezembro e irá eleger o próximo presidente e os membros do Conselho Deliberativo.

Há cerca de um ano e meio o Bahia passa por um processo ímpar: como resultado de uma mobilização em massa de sua torcida e de uma série de ações judiciais que culminaram com uma intervenção, os antigos gestores do tricolor foram afastados, uma campanha de associação em massa foi promovida e eleições diretas foram adotadas. No primeiro pleito, Fernando Schmidt, figura vinculada ao pensamento progressista, foi eleito presidente para um mandato tampão, que se encerra no final desse ano.

Em que pese o mau desempenho dentro de campo, nesse período o Bahia evoluiu consideravelmente fora dele: as eleições livres e democráticas também são proporcionais, garantindo que cada segmento que se organiza em torno do Clube esteja representado no Conselho Deliberativo; este, por sua vez, passou a se reunir com frequência e a cumprir papel protagonista, e não figurativo como em outros tempos. Um novo Estatuto exige prestação de contas mensal e pública, o que tem sido feito, e passou-se a exigir Ficha Limpa aos que ocupam cargos na diretoria.

Fruto de um acordo histórico, o Bahia passou a ser proprietário de um novo e moderno Centro de Treinamento, a “Cidade Tricolor”, além de ter recuperado seu CT antigo, o Fazendão. A diretoria também comprou briga com setores da grande mídia, cortando benefícios recebidos às custas do Clube e, é claro, foi implacavelmente atacada por eles. A “democracia tricolor”, como ficou conhecido esse novo momento, tem tudo para trazer benefícios de médio e longo prazos a um dos mais populares Clubes brasileiros.

Nessas eleições são candidatos à presidência Antônio Tillemont, Binha de São Caetano, Marcelo Sant’Ana, Marco Costa, Nelsival Menezes, Olavo Fonseca e Ronei Carvalho.

Nesse sentido, registramos nosso apoio à candidatura do jornalista Marcelo Sant'Ana, com o número 91, e da chapa “Revolução Tricolor” para o Conselho Deliberativo, com o número 191. Em nossa opinião, são os que têm capacidade de assegurar essas conquistas e corrigir os equívocos cometidos na gestão de futebol.

¹Informações disponíveis em http://globoesporte.globo.com/futebol/brasileirao-serie-a/publico-brasileirao.html

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