Chefes de Estado sul-americanos na inauguração da sede da Unasul, em Quito, Equador |
Terminamos o ano de 2014 com resultados eleitorais bastante auspiciosos na região latino-americana e caribenha. A despeito de terem sido processos de intensa disputa, as eleições deste ano em El Salvador, Bolívia, Brasil e Uruguai inscrevem na história de nossa região a vontade inequívoca de nossos povos de continuidade das políticas antineoliberais, de inclusão social, combate à pobreza, de integração soberana entre nossas nações e de construção de um mundo multipolar, de paz e solidariedade.
A vitória da presidenta Dilma Rousseff, em razão da dimensão do Brasil, de sua economia e sua população, tem um significado geopolítico bastante relevante. Nossos adversários internos propuseram nesse processo eleitoral uma outra visão de política externa, diferente daquela que foi vitoriosa. Defenderam a subordinação da economia brasileira aos interesses das empresas multinacionais, através da inserção nas cadeias produtivas internacionais, implicando de imediato em maior abertura comercial, políticas de austeridade, proteção aos investidores, flexibilização de direitos e redução do papel do Estado na vida dos povos.
Propugnaram ainda o abandono da prioridade ao Mercosul e aos processos de integração latino-americana e caribenha através da Unasul e da Celac. O melhor exemplo, simbólico mesmo, foram as críticas aos investimentos no Porto de Mariel, em Cuba, que gerou inúmeros empregos brasileiros e vai contribuir para um enorme salto de qualidade para o escoamento de produtos latino-americanos nos fluxos comerciais entre nossa região e o mundo, além de ganhos de competitividade e produtividade.
Assim, a continuidade de uma visão de política externa iniciada pelo presidente Lula e seguida pela presidenta Dilma terá um impacto altamente positivo para toda a região. Essa visão tem como horizonte estratégico a inserção soberana de nossos países e nossas economias no mundo globalizado, uma inserção como bloco, garantindo melhores condições para nossos povos e segmentos produtivos.
Certo é que novos desafios se colocam para dar um salto de qualidade nessa caminhada. Serão necessários passos decisivos para o avanço da integração continental, como a criação e estimulo às cadeias produtivas regionais, integração através de obras de infraestrutura, integração energética, a criação do Banco do Sul, o empenho para a consolidação da Unasul e da Celac.
Um outro impacto altamente positivo dessa vitória é o papel que joga o Brasil na construção de um sistema internacional multipolar, assegurando os interesses nacionais e dos demais países em desenvolvimento, bem como na construção de um mundo de paz e solidariedade. Nosso país tem se consolidado como líder na reforma das instituições multilaterais, e a criação, por exemplo, do banco do Brics, com a presidência do seu conselho ocupada pelo Brasil, criará um outro paradigma de instituição financeira diferente do FMI.
Igualmente exemplo de ousadia política nesse rumo foi a última reunião do Brics aqui no Brasil, quando a presidenta Dilma recebeu chefes de Estado dos países do grupo e de países latino-americanos, além do quarteto dirigente da Celac. Ou seja, nessa ocasião, a presidenta Dilma, além de líder global, consolidou-se como liderança de toda a nossa região latino-americana e caribenha em defesa de nossos povos e países.
Por fim, a continuidade da tradição pacífica de nosso país e da política externa inaugurada pelo presidente Lula no campo da construção de soluções negociadas para os conflitos em regiões sensíveis como o Oriente Médio é outra boa notícia para aqueles que defendem a paz e a democracia. Cumprirá cada vez mais ao Brasil o papel de ator global relevante para um mundo de paz.
* Monica Valente é secretária de Relações Internacionais do PT.
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