domingo, 2 de novembro de 2014

Vida Adulta

"Só recentemente me sinto melhor em minha pele",
diz Emma Watson.
Por Vanessa Thorpe, na Carta Capital
Aos 24 anos, Emma Watson firma-se como atriz, mulher e ativista.
Pouca gente admitiria sentir pena de Justin Bieber, Miley Cyrus ou Lindsay Lohan, por mais que tenham se metido em encrencas. Acusação por dirigir alcoolizado? Erro deliberado de guarda-roupa? Quem se importa? Para a maior parte do público, esses ex-astros infantis parecem mercadorias exóticas para se negociar no mercado de escândalos, embora sejam apenas jovens que vivem sob níveis anormais de escrutínio.
Em voo alto sobre todos eles, não mais em uma vassoura, está Emma Watson, a atriz inglesa de 24 anos conhecida por milhões de fãs dos filmes de Harry Potter como Hermione Granger e vencedora do prêmio A Mulher mais Perfeita da Década, concedido pelo serviço de notícias da internet BuzzFeed.

Com uma beleza luminosa e delicada, Watson teve de trilhar um caminho difícil. Confessadamente, sucesso e segurança financeira lhe deram mais opções do que as jovens costumam ter, mas cada passo foi relatado em crônicas para o mundo todo. Assim como a aprendiz de feiticeira que interpretou, teve de aprender a usar poderes mágicos e conjurar fortes feitiços diante de forças malignas.
Recentemente, as trevas chegaram muito perto. Watson foi ameaçada com a divulgação de fotos íntimas supostamente tiradas em situação privativa. Foi uma espécie de punição por se manifestar a favor do feminismo na sede da ONU em sua função de embaixadora da Boa Vontade. “Os direitos das mulheres estão inextricavelmente ligados a quem eu sou, tão profundamente pessoais e enraizados na minha vida, que não posso imaginar oportunidade mais excitante”, declarou acerca da chance de falar em nome das mulheres.
A iminente publicação das supostas fotos nua, humilhação que veio a ser um blefe, poderia ter arrastado a atriz para as ordens inferiores de ex-astros infantis, que existem na consciência do público meramente como histórias de advertência para assustar adolescentes peraltas.
Embora tenha se arriscado antes, a provocação citada pelos piratas da rede foi o discurso do dia 24 de setembro em Nova York para promover a campanha HeForShe (Ele Para Ela), no qual afirmou que a discriminação de gênero prejudica tanto homens quanto mulheres. No dia seguinte, anônimos criaram um site com ameaças sexuais contra a atriz e começaram uma contagem regressiva para a divulgação das fotos. “Ainda pior do que ver a privacidade de mulheres violada na mídia social é ler os comentários que mostram tamanha falta de empatia.”
O ataque fez gurus da mídia tremerem. Mas Watson está equipada com técnicas de sobrevivência que superam sua idade. Daniel Radcliffe e Rupert Grint, que com ela integram o trio central da franquia Harry Potter, também têm se saído muito bem. Ao crescer e aprender juntos no estúdio, o grupo de Hogwarts encara a fama com graça.
Aos 9 anos, quando fez teste na prestigiosa escola Dragon, em Oxford, foi escolhida mais pela aparência não convencional do que por seu potencial para atriz de Hollywood. O perfil bem desenhado, os olhos castanhos brilhantes, o sorriso largo e a gargalhada que a levaram a ser considerada uma grande beleza despontaram aos 20 anos. Antes, era mais uma menina serelepe e confiante que só queria usar cabelos curtos.
A atriz nasceu em Paris em 1990, filha dos advogados Jacqueline Luesby e Chris Watson, mas mudou-se para a região de Oxfordshire, na Inglaterra, com a mãe e o irmão, Alex, aos 5 anos, depois do divórcio dos pais. Ambos voltaram a se casar e formaram novas famílias.
Segundo o produtor David Heyman, Watson teve de ser convencida a fazer toda a série de filmes em vez de estudar. Ela obteve oito notas máximas e duas pouco abaixo em dez disciplinas no segundo grau e era tão estudiosa no estúdio quanto na sala de aula improvisada durante a filmagem. Depois dos filmes, cursou Literatura Inglesa na Universidade Brown, uma das melhores dos Estados Unidos.
Em entrevista ao programa Tonight, de David Letterman, para promover Noé, de Darren Aronofsky, em que interpreta a filha adotiva do personagem bíblico, usou um terno elegante, ligeiramente andrógino. Os patrulheiros online passaram ao ataque. “Por que ela está usando essa porcaria?”, perguntou um deles, o que revela o nível de abuso dirigido à atriz por qualquer sugestão de recato ou decoro. Entrevistas indicam que ela teve de endurecer para enfrentar o mundo exterior desde pequena. “Eu trabalhava em Harry Potter enquanto crescia e a atenção que ele atraiu para mim me fez sentir muito isolada. Só recentemente me sinto melhor em minha pele.”
A vigilância dos fãs e da mídia também teve um impacto sobre seus relacionamentos adultos. “Não namoro pessoas famosas e não acho justo que detalhes de sua vida pessoal se tornem públicos como consequência direta de estarem comigo.”
O palco está montado hoje para que Watson se estabeleça como uma ex-estrela infantil que pode manter o rumo, como fizeram Keira Knightley, Billie Piper e Helena Bonham Carter. E desde que defendeu outras estrelas submetidas a invasões de privacidade online, como Jennifer Lawrence, e depois de seu trabalho humanitário em Bangladesh e Zâmbia, talvez um dia haja um papel para ela na política internacional.

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