Por Caio Botelho
Na próxima terça-feira, 10, o ex-presidente do Brasil, Fernando Henrique Cardoso, irá receber do Congresso dos Estados Unidos um prêmio de US$ 1 milhão por, na opinião dos ianques, ser um "grande pensador na área de humanidades". Até aí nenhuma novidade - todos sabemos que o tal pensamento defendido por FHC se alinha com o que propõe os EUA para o Brasil e a América Latina. Inclusive, quando governou o país, o tucano colocou em prática essa receita, ipsis litteris, do jeitinho que o FMI e a Casa Branca mandaram.
Mas me lembrei de outro episódio, aparentemente sem nenhuma relação com o caso acima: quando, meses atrás, o ex-presidente Lula foi diagnosticado com o câncer na laringe, algumas aves de mau agouro protagonizaram uma campanha nas redes sociais para que ele fizesse seu tratamento através do Sistema Único de Saúde (SUS), iniciativa que logo foi sufocada pelo sentimento de solidariedade que emanou da imensa maioria do povo brasileiro.
Até o último fio de nossos cabelos sabe que essa proposta partiu daquela parcela da sociedade que, em sua quase totalidade, nunca pisou os pés em um hospital público. São as velhas classes média e alta com o mesmo pensamento conservador e preconceituoso de sempre. Para elas, o Hospital Sírio-Libanês não é lugar de um ex-operário nordestino.
Pois se essa turma está mesmo preocupada com a situação da saúde pública do Brasil, poderia fazer uma campanha para que FHC, que possui um patrimônio que lhe permite viver mais que confortavelmente, doasse esse prêmio milionário para o SUS ou algum hospital filantrópico sério, não é mesmo?
Mas certamente não farão isso. A preocupação dessas elites tem um limite que, por sinal, é muito estreito. Para elas, uma coisa seria o Lula fazer o seu tratamento contra o câncer em um hospital público - ainda que retirasse a vaga de um brasileiro que não tivesse condições de pagar pelo acesso à rede privada. Mas pedir para que um dos seus corte da própria carne para efetivamente melhorar esses hospitais, aí já é demais.
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