segunda-feira, 25 de junho de 2012

Marcelo Gavião: “A população de Salvador precisa recuperar o orgulho de ser soteropolitana”

Por Caio Botelho
Iniciando uma série de entrevistas com personalidades do mundo político, cultural e acadêmico, o blog Soletrando a Liberdade conversou com Marcelo Gavião.

De seus 32 anos de idade, Marcelo dedicou 17 deles à luta política, tendo vivido experiências bastante interessantes: quando secundarista, ajudou a organizar a “Revolta do Buzú” (série de manifestações estudantis que, em 2003, protestou contra o aumento da tarifa de ônibus ), e presidiu a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), uma das entidades de maior base social do mundo, que representa mais de 50 milhões de estudantes brasileiros.


Também liderou a União da Juventude Socialista (UJS), entidade que conta com mais de 100 mil filiados em todo o país e que é considerada a maior organização política da juventude brasileira.


Marcelo na posse de Lula em seu segundo mandato (2006)
Marcelo na posse de Lula em seu segundo mandato (2006)
Ao longo desse percurso, se tornou uma respeitada liderança juvenil, reconhecimento que o fez ser convidado, pelo ex-presidente Lula, para integrar o Conselho Nacional de Juventude entre os anos de 2005 e 2010, além de ter se tornado uma importante referência às mais novas gerações de jovens que também desejam transformar em realidade o sonho de construir um mundo e um país melhores.

Nessa descontraída entrevista, que está mais para um bate-papo, Marcelo fala sobre o início de sua militância, a experiência à frente da UBES e da UJS e a história de lutas da juventude brasileira. Mas comenta também sobre a sua cidade, Salvador, e as “novas ideias” que ele propõe para melhorar a situação da capital dos baianos.

Confira a íntegra da entrevista a seguir:

Soletrando a Liberdade – Gavião, você começou a sua trajetória na política como estudante secundarista. Como foram os seus primeiros passos na militância e porque você decidiu fazer essa opção de vida?

Marcelo Gavião – Eu comecei a minha militância política muito por influência do meu pai, que é militante do PCdoB desde a década de 80, e eu cresci vendo ele se organizando, participando de mobilizações, lutando por melhorias nas condições de salários, participando de greves e de várias atividades. E foi no ano de 1996 eu resolvi me aproximar mais da militância juvenil, e conheci a UJS, a União da Juventude Socialista.

Plenária Final do 14º Congresso da UJS
Na Plenária Final do
14º Congresso da UJS
Naquele momento eu tive a oportunidade de participar, primeiro de uma plenária da UJS, e logo na sequencia de um Congresso Nacional. Quando eu voltei do Congresso Nacional da UJS estava muito empolgado com a ideia de construir na minha escola aquela organização política que eu tinha visto no Congresso, que juntava jovens de todos os cantos do país e que tinham o propósito de construir um futuro melhor para o Brasil, uma cidade melhor, um estado melhor. Isso fez com que eu voltasse para a minha escola com esse propósito, e começamos a desenvolver essa luta. Logo de cara eu comecei a participar do Grêmio Estudantil, logo na sequencia virei presidente do Grêmio, conseguimos filiar um número grande de pessoas à UJS – uma parte dessas pessoas é do PCdoB até hoje – e daí se deu início à nossa militância no movimento secundarista.

Partindo assim por todas as fases de organização políticas, fui de Grêmio, fui de entidade municipal, fui diretor da ABES, a Associação Baiana Estudantil Secundarista (eu era o diretor da ABES responsável pela Região Metropolitana de Salvador). Depois fui vice-presidente regional da UBES até que chegou em 2003 quando, depois daquelas mobilizações que ocorreram aqui em Salvador contra o aumento da tarifa de ônibus, eu fui indicado pela UJS e pelo movimento que nós fazíamos parte para presidir a UBES, momento em que eu fui morar em São Paulo.

SL – Dessa forma você chegou à presidência da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), importante entidade do movimento estudantil brasileiro, e logo em seguida da União da Juventude Socialista (UJS), maior organização juvenil do país. Como foram essas experiências?

No 39º Congresso da UBES, em São Paulo
No 39º Congresso da UBES, em São Paulo
MG – Primeiro, ter feito movimento secundarista e assumido as funções e as tarefas que assumi nesse movimento, de toda trajetória política que a gente construiu até hoje, é o que me dá mais orgulho. Porque o movimento secundarista é, por essência, um movimento generoso, onde as pessoas militam não por estar interessados em coisas para si, mas militam motivadas e mobilizadas por causas coletivas. Esse é um negócio muito bonito da alma, da essência, do movimento secundarista.

Assumir a presidência da UBES foi uma experiência muito marcante em minha vida, já que eu tinha acabado de liderar aqui em Salvador aquele processo de mobilizações pelo Agosto do Buzú [série de manifestações estudantis que, em 2003, lutou contra o reajuste na tarifa de transporte público] que, ao lado do Fora Collor, podemos afirmar que foram os dois maiores processos de mobilizações de estudantes já vistas na cidade de Salvador. Não tem nada que se compare à essas duas mobilizações. Então eu tinha acabado de liderar essa luta e fui presidir a UBES, e eu tive a oportunidade de ser presidente da UBES no momento em que iniciava o governo Lula. Ele ganhou a eleição em 2002, assumiu em janeiro de 2003 e em dezembro de 2003 eu fui pra São Paulo. Estávamos no primeiro ano de mandato do governo Lula e o nosso desafio era como construir uma nova agenda para o movimento estudantil.

Nós que vínhamos de uma agenda reivindicatória de lutar contra as propostas do governo neoliberal que o governo de Fernando Henrique Cardoso apresentava, tivemos o desafio de construir uma outra agenda, mais propositiva. Porque agora não era mais pra mobilizar apenas para denunciar as mazelas do capitalismo. Agora nós também tínhamos que apresentar a saída. Tá bom, vocês acham que a educação está ruim, mas o que vocês propõem para mudar a educação?

Então, conseguimos convencer o governo da necessidade de construir um novo decreto para retomar o processo de fortalecimento das escolas técnicas federais, conseguimos fazer com que o governo em determinada medida abraçasse a ideia de atrelar os investimentos na educação básica, conseguimos ganhar o governo para a ideia de que era necessários construir um debate sobre a reformulação da educação básica no Brasil, conseguimos ganhar o governo para o debate de que era preciso ampliar o acesso a Universidade, e que aqui a gente caminhou de duas maneiras: uma foi fazendo a defesa do ProUni e outra foi a luta nas Universidades Estaduais e Federais para poder aprovar a cota para estudantes de escolas públicas e estudantes carentes.

Foi um período do movimento estudantil secundarista muito decisivo, em que a gente teve que aprender a atuar no ambiente político em que nós não podíamos nos confundir com o governo, mas não podíamos também considerar aquele governo igual ao que a gente considerava o governo anterior. E o ápice disso foi o ano de 2005, o último ano da minha gestão na presidência da UBES, que teve aquele processo de mobilização da direita brasileira para promover o impeachment do presidente Lula, e que acabou sendo derrotada nas ruas pelas mobilizações que nós fizemos.

E um dia marcante foi o 16 de agosto de 2005, quando fizemos uma mobilização que ficou conhecida como “Fica, Lula!”, e que a gente botou ali na Esplanada dos Ministérios cerca de 30 mil pessoas para dizer à direita brasileira, em especial para o PSDB, de que se quisessem depor o presidente Lula teriam que enfrentar o povo nas ruas, já que o governo Lula era uma vitória das forças progressistas e democráticas de nosso país, e por isso não aceitaríamos essa tentativa golpista.

E assim se deu a minha passagem pela UBES: marcada por luta, por muita mobilização, e que pessoalmente, para a luta política que eu vivo, foi muito importante porque me deu a possibilidade de conhecer a realidade brasileira. Foram muitas viagens, para muitos estados, e isso me fez apaixonar ainda mais pelo Brasil. Todo brasileiro ama o Brasil, só que muita gente ama o Brasil sem conhecê-lo, então foi muito bom conhecer o Brasil, poder conhecer a Bahia como eu conheço, conhecer Salvador, mas conhecer também Porto Alegre, Manaus, Florianópolis, Cuiabá, Brasília, Goiânia, João Pessoa, Fortaleza...

A consequência disso foi a indicação para que a gente presidisse a União da Juventude Socialista. Eu saí da UBES, assumi a vice-presidência nacional da UJS por cerca de seis meses, e na sequência assumi a presidência nacional da UJS com o desafio de fortalecer a luta da UJS e de consolidá-la como a principal organização juvenil e política defensora do Socialismo no Brasil. Fui eleito presidente nacional no mês de junho de 2006, reeleito em 2008, e no Congresso de 2010 deixei a presidência da UJS, com 30 anos de idade. Então eu tinha metade da minha vida dedicada à construção das lutas e mobilizações juvenis no Brasil.

Nesse período em que eu atuei na militância do movimento juvenil, participei desde as lutas que denunciaram a política educacional e as privatizações do governo de Fernando Henrique Cardoso, das mobilizações em Salvador pela cassação do senador Antônio Carlos Magalhães, participei da Revolta do Buzú, dos principais embates políticos do primeiro momento do governo Lula, e acompanhei, já na presidência da UJS, lutas como a reforma universitária e a necessidade de ampliar os investimentos na educação, debates que ajudaram na elaboração de propostas como a campanha pelos 50% dos recursos do Fundo Social do Pré-Sal e pelos 10% do PIB para a educação. Então tudo isso foram lutas que contaram, em alguma medida, com a nossa participação.

SL – Tem muita gente que diz que a juventude brasileira é acomodada e não gosta da luta. Você concorda com isso? Como você acha que a nossa juventude pode se tornar mais engajada na luta política?

MG – Eu acho o seguinte: tem um sentimento na política brasileira que busca negar à juventude o direito de ser agente político e todo movimento que eu fiz até hoje foram movimentos para combater essa ideia. A política é um espaço pra lutar por transformações – não existe possibilidade de transformação fora da política, e a juventude precisa estar cada vez mais inserida nos espaços de decisão. O movimento que a gente faz é esse. Essa afirmação que trata da participação política da juventude busca reforçar esse conceito.

Então, a afirmação que a juventude não faz luta política e que essa geração é acomodada busca afastar os jovens dos embates políticos, o que é uma grande mentira. Todas as gerações têm seus créditos, a história do Brasil é uma história de lutas e mobilizações. Não teve um movimento da história do Brasil que não tivesse luta, mobilização.  Eu sempre gosto de dar o exemplo da escravidão: até hoje tem-se a ideia de que a escravidão no Brasil acabou porque a princesa Isabel era uma pessoa muito bondosa, e isso é ensinado hoje nas escolas, em pleno ano de 2012, de que a princesa Isabel era muito bondosa e foi lá e assinou a lei Áurea. Mas conta-se pouco que até chegar na Lei Áurea foi preciso ter a Lei do Ventre Livre, a lei que libertava os escravos com mais de 60 anos, e que todas essas leis foram conquistadas com luta. Foram uma série de mobilizações que resultaram em uma conquista maior, e isso tudo contou com a participação do povo. E nisso aqui estava inserida a juventude, ou o que é que foi a participação de figuras como Zumbi dos Palmares e Castro Alves? Foram duas lideranças que já a partir de sua juventude atuaram para poder afastar do Brasil o regime de escravidão.

Ato contra a tentativa de privatização do Elevador Lacerda
Ato contra a tentativa de privatização do Elevador Lacerda
Para pegar outro exemplo mais recente, o que seria do Brasil hoje sem o enfrentamento realizado pela juventude contra a ditadura militar? Quantos jovens tombaram, quantos jovens foram torturados, quanta gente sofreu alimentando o simples sonho de fazer do Brasil um país livre, onde as pessoas tivessem o direito de dar a sua opinião, mesmo que a sua opinião fosse contrária à opinião daqueles que nos governavam? Então essa é a marca da juventude brasileira, a marca da juventude que atuava no movimento secundarista, no movimento universitário, a marca da juventude que pegou em armas, que foi ao Araguaia, que construiu o Fora Collor – essa mobilização pelo impeachment do presidente que foi uma mobilização essencialmente juvenil.

Olhe as mobilizações para denunciar o governo de Fernando Henrique Cardoso, as mobilizações que evitaram o impeachment do Lula em 2005, como citei anteriormente. A direita brasileira queria afastar o Lula, e se não fosse a juventude brasileira, naquele momento, tomar a frente nas mobilizações, quem sabe o que teria acontecido na história do nosso país.

O Brasil está agora pra conquistar uma grande vitória, que é essa vitória de conseguir ampliar os investimentos em educação. Hoje, o Brasil investe algo próximo a 5% do PIB na educação, e a nossa luta é pra chegar a 10%, e o governo já admite chegar a 8%, o que já é uma grande vitória! Se você pega o que era investido até 2002, isso significa dobrar o investimento em educação, comparado com o PIB, em menos de 10 anos. Então é uma grande vitória, sim! E são vitórias asseguradas a partir do envolvimento da juventude, de bandeiras políticas elaboradas e desenvolvidas pela juventude. O que a juventude brasileira mais fez e mais faz é luta e mobilização, e espero que sempre seja assim, e eu sou daqueles que acreditam no potencial transformador da juventude, e que dá crédito às mobilizações construídas pela juventude.

Manifestação de estudantes da UFBA por mais investimentos em educação
Manifestação de estudantes da UFBA
por mais investimentos em educação
SL – Aqui em Salvador, o prefeito João Henrique é considerado, por pesquisas de opinião, como o pior prefeito das capitais brasileiras. Recentemente, inclusive, estudantes construíram grandes manifestações que, dentre outras coisas, pediam a rejeição das contas de JH. Como você analisa a gestão do atual prefeito da capital baiana?

MG – Quando a gente fala em Salvador – e eu conheço muita gente de outros estados – eu sempre falo de Salvador fazendo a propaganda da cidade perfeita. Pô, Salvador é demais, é bonita, tem um povo acolhedor, inteligente, trabalhador... então a gente apresenta Salvador como a melhor das cidades, só que a nossa cidade é uma cidade de um povo acolhedor, alegre, trabalhador, só que ela também é hoje a cidade do lixo, a cidade do descaso, a cidade do abandono, a cidade que tem um dos piores transportes públicos das capitais brasileiras, é uma cidade abandonada. A cidade de Salvador é uma cidade abandonada.

E uma parte significativa da culpa por esse abandono é do prefeito atual. Nós temos o desprazer de ter um prefeito que não consegue cumprir as obrigações básicas de uma administração. Antes de falar dos problemas mais visíveis, vamos pegar algumas obrigações legais do prefeito. Está na Constituição: todo prefeito precisa investir no mínimo 25% de seu orçamento em educação. Todo prefeito precisa investir no mínimo 15% de seu orçamento em saúde. O prefeito de Salvador não investe: teve as contas de 2009 e de 2010 rejeitadas pelos mesmos motivos – não cumpriu com a Constituição, deixando de investir em setores que são fundamentais. Isso é um exemplo de incompetência administrativa.

Para pegar o lado do abandono da cidade, você circula nos principais espaços da cidade, são espaços abandonados, é lixo acumulado, são espaços públicos deteriorados, são praças que ao invés de se tornarem espaços para atender ao bem estar da população, estão completamente entregues, sujos, e isso se dá pela baixa capacidade da administração pública que a gente tem hoje.

Ato pela rejeição das contas do prefeito João Henrique
Ato pela rejeição das contas do prefeito João Henrique
Eu acho que Salvador precisa sofrer um processo que fosse além de uma administração competente. Porque tem cidades que precisam apenas de um bom gestor, e Salvador não precisa apenas de um bom gestor, mas precisa de uma administração que tenha a capacidade de pensar novas ideias para velhos problemas, ou até para novos problemas, mas pensar em novas ideias.

Salvador é a terceira maior cidade do Brasil do ponto de vista da população, mas ela sofre de problemas que outras grandes cidades já deixaram para trás. Nós não temos um serviço de transporte público que atenda a demanda – e quando eu falo de um serviço de transporte público eu não estou falando apenas de ônibus para transportar a população mais pobre, não. Uma cidade que se respeita garante transporte público para o conjunto da população, porque enquanto não tiver um serviço de transporte público que atraia inclusive a classe média, um ônibus que tenha qualidade, um metrô que tenha qualidade, que tenha segurança, o trânsito da cidade fica caótico da maneira como está hoje. Então nós precisamos de um transporte público que consiga atacar esses problemas, que seja um transporte para o conjunto da população, não apenas para a população mais pobre. Nenhuma cidade grande e desenvolvida no mundo conseguiu enfrentar o problema do transporte público sem ter um sistema de transporte que abarcasse o conjunto da população.

Se você pega do ponto de vista da indústria e do comércio, temos um cidade que não consegue sobreviver o ano todo. Salvador ainda é uma cidade que, entre o período de dezembro a fevereiro tudo funciona, e quando chega do mês de março ao mês de novembro, quase tudo fecha. Restaurantes, casas de show, estabelecimentos de todo tipo são fechados, porque é uma cidade que só consegue se movimentar em um período restrito. Então Salvador precisa se preparar para funcionar o ano todo. É um cidade bonita, mas que perde hoje, do ponto de vista da capacidade de atração turística, para Fortaleza. Um município que tem o potencial como Salvador não consegue se preparar para ser o segundo destino turístico do Brasil, como já foi um dia.

E a administração da cidade é lamentável, e por isso a passeata que foi feita há um tempo atrás tinha o objetivo de pressionar os vereadores para que eles reprovassem as contas de João Henrique. Reprovando as contas dele, a gente o afasta da política por oito anos, tornando-o inelegível, o que é uma lição para um prefeito que prestou um desserviço dessa magnitude à cidade, e segundo porque chama a atenção para os próximos governantes: esse é um ano eleitoral, e é preciso que os vários candidatos apresentem propostas viáveis para a nossa cidade, que possam responder a problemas graves que tem aqui, como o desemprego, que é um problema grave, já que não conseguimos atrair investimentos e por isso temos índices de desemprego elevados. Precisa responder ao problema da segurança pública, em parceria com o governo do estado, já que não se pode achar que a segurança pública é um problema do estado e que o município se desresponsabiliza disso, como ocorre hoje. Responder o problema do transporte público, da construção e manutenção de espaços públicos de lazer para a cidade.


Todas essas são questões que precisam ser debatidas para melhorar as condições de vida dos que moram na cidade. Nesse recorte aqui está a juventude. Quais ideias que a juventude deveria defender com mais força esse ano de 2012, sobretudo levando em consideração que é um ano eleitoral? É preciso repensar uma série de questões aqui para Salvador, questões que passam por otimizar os espaços públicos, constituir parcerias que possibilitassem aos jovens ter acesso à cursos profissionais, pra dar vazão a demandas que hoje são reprimidas, estabelecer parcerias com Universidades que possibilitassem ao jovem ter acesso a cursos de idiomas, coisas que ajudassem na formação e na preparação do jovem para os desafios do futuro.

SL – A propósito, o PCdoB, em sua Convenção Eleitoral realizada em 17 de junho, aprovou o seu nome como candidato a vereador nessas eleições, ao lado da deputada Alice Portugal como candidata à  prefeitura. De onde vem essa vontade de concorrer a uma vaga na Câmara?

Ao lado do deputado federal Daniel Almeida na Convenção do PCdoB que homologou a candidatura de Marcelo para vereador e a deputada Alice Portugal para prefeita
Ao lado do deputado federal Daniel Almeida na Convenção
do PCdoB que homologou a candidatura de Marcelo para
vereador e a deputada Alice Portugal para prefeita
MG – A política é um instrumento muito conservador. A política brasileira é muito conservadora, às vezes de maneira explícita e às vezes de maneira implícita. Existir uma lei que impede uma pessoa com menos de 35 anos de disputar uma vaga para o Senado, por exemplo, é uma maneira clara de veto à juventude.

Mas também tem as formas que não são claras. A renovação da política é algo necessário para oxigenar o debate sobre as propostas. Se você for observar os jovens parlamentares que temos hoje, são jovens que geralmente tem na sua família alguma tradição na política, esses jovens geralmente tem no seu sobrenome as palavras Neto, Filho ou Júnior, geralmente é assim, e aqui na Bahia nós temos exemplos disso.

Então, o nosso Partido, que vai disputar nesse ano pela primeira vez a prefeitura de Salvador, decidiu montar uma chapa que possibilitasse o PCdoB crescer a sua influência na Câmara dos Vereadores, e vai lançar uma chapa com quase 70 candidaturas. Dentre essas candidaturas, o Partido mapeou a necessidade de ter uma candidatura que dialogasse com o público jovem, que dialogasse com o público das Universidades, das principais escolas, que dialogasse com a necessidade de renovação da política e da composição da Câmara dos Vereadores, para poder ajudar a fazer com que a Câmara consiga recuperar o seu papel de espaço legislador e que consiga debater novas ideias, novas propostas, para responder aos problemas da nossa cidade.

Disso surgiu o debate de nossa candidatura, e a gente topou esse desafio de disputar a nossa primeira eleição. Além disso, há uma crítica da população quanto à qualidade da Câmara dos Vereadores: pesquisas têm apontado que o povo está muito insatisfeito com a composição da Câmara de Salvador, e a qualificação da Câmara pode e deve se dar também com a eleição de parlamentares jovens, que tenham identidade com as organizações do movimento estudantil, com as organizações que tem legitimidade e que tem uma série de propostas para melhorar as condições de vida da população como um todo.

SL - O slogan que você tem utilizado pra divulgar as suas bandeiras é “Novas Ideias para Salvador”. O que isso quer dizer?

MG – Esse é um objetivo nosso, a gente tem trabalhado com essa ideia. E a proposta é desenvolver uma campanha que consiga levantar uma série de novas ideias para poder apresentar para a população. A gente acredita na possibilidade de construir um mandato jovem que consiga dar grandes contribuições para os debates de nossa cidade.

Porque não pensar num projeto que pense na construção de um programa tipo “ProUni municipal”? Porque não pensar na construção de um projeto que pense em dar à população o acesso à internet sem fio de modo gratuito? Porque não pensar em projetos que incentivem o uso da bicicleta como transporte público, ligando um ponto a outro da cidade? Porque não pensar em projetos que incentivem a prática de esportes na juventude, a partir de aparelhos desenvolvidos e sustentados pelo estado? Porque não pensar em projetos que possam incentivar a ida do jovem ao teatro, que hoje é um negócio muito caro, e porque não incentivar a construção de teatros populares nos bairros de Salvador? Porque não pensar em projetos que possam aproximar a Universidades dos bairros mais periféricos de nossa cidade?

São coisas que a gente tem levantado. São projetos que tratam desde tirar proveito do fato de Salvador realizar grandes eventos como a Copa do Mundo, apresentando na construção de suas obras soluções para a cidade, a pensar medidas mais específicas, de constituição de uma biblioteca que circule os bairros da cidade, por exemplo. Trata-se da construção de iniciativas grandes, de projetos grandes, mas também de iniciativas pequenas.

SL – Por fim, qual a mensagem que você deixa aos leitores de nosso Blog?

MG – Olhe, a mensagem é de otimismo, e a mudança depende de participação. Se a juventude e a população tiver ganha para a ideia de que é possível transformar, de que é possível melhorar, de que é possível fazer de Salvador uma cidade melhor de viver, nós vamos conseguir fazer isso. A partir do momento em que a gente vote em pessoas que estejam compromissadas com esse objetivo, a partir do momento em que a gente aposte em projetos que assumam a responsabilidade de caminhar nessa direção.

E eu acho que a população de Salvador – e a gente vai tentar fazer uma campanha nesse sentido – precisa recuperar o orgulho de ser soteropolitano, que é um orgulho que joga pra frente, que te propõe ser melhor. Salvador tem todas as condições geográficas, políticas, econômicas, de se transformar em uma das principais cidades do mundo, e o desafio nosso tem que ser esse: preparar Salvador para o futuro, mas fazer isso agora. Preparar Salvador pra ser essa grande cidade enfrentando problemas agora, hoje.

Não pode ser normal Salvador ser motivos de piada porque ainda não tem metrô. Não pode ser normal as praias de Salvador serem sujas, ter um subúrbio lindo como tem hoje, e ser algo abandonado, esquecido. Não pode ser normal Salvador ter as taxas de desemprego que tem, conviver com a sujeira que ela vive hoje e funcionar só no verão. Não poder ser normal a juventude não ter acesso ao teatro porque ele é muito caro e não ter acesso ao cinema porque as grandes salas de cinema não disponibilizam as condições para o jovem. Não pode ser normal tudo isso. Então tem que ter uma cidade em que a juventude consiga ter acesso de maneira qualificada a todos esses espaços. É possível construir uma cidade que dê ao jovem o direito de ser jovem e que dê a ele condições de ter acesso a esses instrumentos de formação.

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