domingo, 25 de março de 2012

A entrevista de Dilma na Veja

Por Altamiro Borges
Numa entrevista de dez páginas para a revista Veja desta semana, a presidenta Dilma Rousseff mostrou firmeza nas respostas. Ao mesmo tempo, ela tentou agradar os leitores desta revista direitista, insistindo na linha do “namorico com a mídia”. O esforço maior foi para demonstrar que as recentes derrotas no Congresso Nacional e a crescente rebelião na base aliada não abalaram o seu governo.

“Não há crise nenhuma. Perder ou ganhar votações faz parte do processo democrático e deve ser respeitado. Crise existe quando se perde a legitimidade. Você não tem de ganhar todas. O parlamento não pode ser visto assim. Em alguma circunstância sempre vai emergir uma posição de consenso do Congresso que não necessariamente será a do Executivo”, garantiu a presidenta.


“Não vou transigir”

Dilma também insistiu na defesa da ética, o tema preferido da mídia falsamente moralista. "Não gosto desse negócio de toma lá dá cá. Não gosto e não vou deixar que isso aconteça no meu governo... Nenhuma pessoa que é chamada para o governo pode achar que haverá algum tipo de complacência. Nós temos de ser o mais avesso possível aos malfeitos. Não vou transigir”, afirmou.

A entrevista, realizada no Palácio do Planalto, durou duas horas e foi feita logo após a reunião da presidenta com 28 dos maiores empresários do país. “Dilma não estava nem um pouco tensa quando recebeu a equipe da Veja (Eurípedes Alcântara, diretor de redação, e os redatores-chefes Lauro Jardim, Policarpo Junior e Thaís Oyama) na tarde de quinta-feira passada (22)”.

Linha branda na economia

E parece que ela agradou a equipe da revista. Num dos trechos, Dilma relata que defendeu a redução da carga tributária junto aos ricos empresários. “Ficamos todos de acordo que os impostos têm de cair, os investimentos privados e estatais têm de aumentar e o que precisar ser feito para elevar a produtividade da economia brasileira e sua competitividade externa será feito”.

Noutro trecho, também do agrado da Veja, a presidenta rejeitou qualquer medida mais dura de proteção à economia nacional. “Temos de agir nos defendendo, o que é algo bastante diferente de protecionismo... O protecionismo é uma maneira permanente de ver o mundo exterior como hostil, o que leva ao fechamento da economia. Isso nós não faremos”. 

Os efeitos da entrevista exclusiva

A Veja se jactou da entrevista, que comprovaria a pluralidade e o prestígio da revista da famiglia Civita. Já Ricardo Noblat, ligado à famiglia Marinho, também tirou a sua casquinha: “Os blogueiros do PIG (Partido da Imprensa Governista) devem atravessar o fim de semana incomodados porque a presidente Dilma Rousseff concedeu entrevista exclusiva de duas horas à Veja – logo a quem? Ao veículo de comunicação mais acusado por eles de liderar o golpe mediático contra o PT, Lula e Dilma”.

Só o tempo dirá se os marqueteiros e os pragmáticos que cercam Dilma acertaram ao topar uma entrevista exclusiva como uma das publicações mais direitistas do país. Já os blogueiros ironizados por Noblat, que não esconde mais o seu lado, continuarão a criticar os erros, os recuos e as vacilações do atual governo e também as manobras do Partido da Imprensa Golpista, o autêntico PIG. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

As opiniões aqui expressas não necessariamente refletem a posição deste Blog, sendo de responsabilidade exclusiva dos leitores. Não serão aceitas mensagens com ofensas pessoais, preconceituosas, ou que incitem o ódio e a violência. Não há moderação de caráter ideológico: a ideia é promover o debate mais livre possível, dentro de um patamar mínimo de bom senso e civilidade.