Por Altamiro Borges
Sem “banho de sangue” ou cenas de violência presenciadas na desocupação do Pinheirinho, os policiais militares que ocupavam a Assembléia Legislativa da Bahia desde 31 de janeiro deixaram o prédio na manhã de hoje (9). Fruto de prolongada negociação, os 245 grevistas que ainda permaneciam no local saíram de forma organizada e anunciaram a disposição de manter a paralisação.
Dois líderes do movimento que tiveram a prisão decretada pela Justiça, Marco Prisco e Antônio Paulo Angelini, pediram para sair pelos fundos do prédio da Assembléia. A solicitação foi aceita pela Polícia Federal. Ambos foram presos e levados de helicóptero para uma unidade da Polícia do Exército em Salvador. Dos 12 mandados de prisão, ainda restam oito para serem cumpridos.
Grampos acuam os líderes
A solução parcial do conflito foi acelerada com a divulgação de grampos legais de telefonemas em que líderes do movimento estimulam ações violentas. Num deles, Marco Prisco, presidente da Associação de Policiais e Bombeiros da Bahia, conversa com outro PM. “Eu vou queimar viatura... Eu vou queimar duas carretas agora na Rio/Bahia”. Ele orienta: “Fecha a BR aí meu irmão. Fecha a BR”.
As gravações acuaram o comando do movimento, acusado pelo governador Jaques Wagner de promover atos de vandalismo. Ao mesmo tempo, o governo estadual se diz aberto ao diálogo sobre as demandas salariais dos policiais militares. Assembléias estão convocadas para definir a continuidade da greve. Há, inclusive, a possibilidade da sua ampliação com a adesão dos oficiais da PM.
Direita torce pelo confronto
A desocupação da Assembléia Legislativa pode amainar o clima entre grevistas e governo e facilitar as negociações. Ela foi saudada pelo presidente da Casa, deputado Marcelo Nilo (PDT): “Felizmente não houve o derramamento de uma gota de sangue”. Quem não deve ter gostado do desfecho são os urubus da direita, filhotes (e neto) de ACM, e setores da mídia patronal.
Nos últimos dias, editoriais de vários jornalões exigiram que o governador petista endurecesse no trato com os policiais militares e cumprisse a lei – que proíbe greves no setor. O Estadão chegou a culpar Jaques Wagner pela greve, já que no passado de sindicalista ele apoiou outras paralisações de policiais. As emissoras de televisão também fizeram terrorismo com o “caos na Bahia”’.
Na prática, o demagogo ACM Neto, o recalcado José Serra e os barões da mídia torciam – e ainda torcem – pelo confronto. Além de fragilizar um governo comandado por setores de esquerda, um “banho de sangue” facilitaria a ofensiva patronal pela adoção de uma lei antigreve no serviço público. De quebra, ofuscaria as cenas de violência no Pinheirinho, comandada pelos tucanos de São Paulo.
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