domingo, 19 de fevereiro de 2012

Com índices de miséria e desemprego recordes nos EUA, Obama gasta US$ 600 bilhões na guerra

Por Antonio Mazzeo, em Marx 21
Sacrifícios e cortes para tudo, mas não para os mercadores da morte. A administração Obama apresentou ao Congresso a proposta de previsão orçamentária para 2013 para a rubrica da “defesa”: 613 bilhões de dólares, sendo 525 para pagamento de pessoal e compras de caças-bombardeiros, mísseis, tanques de guerra e bombas nucleares e 88 bilhões para as missões de guerra em ultramar.

É menos do que pediam os generais e almirantes mas no final das contas todos ficaram contentes: a Marinha confirmará os seus onze grupos navais guiados por porta-aviões a propulsão nuclear, a Aeronáutica e os Marines terão novos caças e helicópteros para múltiplas missões, o Exército se deleitará com superblindados, tanques, radares e interceptores terra-ar. Graças às ordens do Pentágono, poderão brindar a bolsa e as empresas líderes do complexo militar-industrial estadunidense, a inoxidável Boeing, General Dynamics, Lockheed Martin, Northrop Grumman, Raytheon etc.

Quase um terço das despesas irão para a aquisição e a modernização dos sistemas de guerra mais sofisticados, aviões com e sem piloto, navios e submarinos de ataque, mísseis de médiio e longo alcance e satélites. Exatamente 179 milhões de dólares, 7% a menos do orçamento previsto para 2012, mas com quase 70 milhões a destinar à pesquisa e ao desenvolvimento de novos instrumentos de morte. A parte do leão é destinada aos famigerados caças-bombardeiros F-35 “Joint Strike Fighters” de Lockheed Martin que tanto prazer dão aos ministros-almirantes italianos. No próximo ano, o Departamento da Defesa quer adquirir 29, sendo que destes destinará 19 à US Air Force e 10 à US Navy, por um valor total de 9,2 bilhões de dólares. O programa dos F-35 será, contudo, redimensionado para poder economizar nos próximos cinco anos ao menos 15 bilhões. 

A Força Aérea e o Corpo de Marines poderão contar com 835 milhões de dólares para adquirir, sempre da Lockheed Martin, 7 grandes tanques aéreos e de transporte pesado HC/MC-130J “Hercules” para as operações especiais. Estão previstos no orçamento também 21 bimotores de decolagem vertical V-22 “Osprey”, o falcão pescador projetado pelo consórcio Bell-Boeing para o apoio às missões de guerra. Importantes financiamentos serão dados depois à Aeronáutica para prosseguir os programas de modernização da frota das grandes aeronaves de transporte C-17 e C-16 e para o reabastecimento em voo KC-10 e KC-135 e comprar novos radares para os caças F-15C/D e F-16.

O Pentágono pediu depois 1,3 bilhão de dólares para potenciar a frota dos cargueiros C-5 “Galaxy”, fundos para melhorar os sistemas de comunicação dos bombardeiros estratégicos stealth (invisíveis) B-2, potenciar as armas de precisão dos velhos B-52 e modernizar o sistema de mísseis intercontinentais “Minuteman III” ICBM. No orçamento destina-se ainda 1,8 bilhão de dólares para financiar a pesquisa e o desenvolvimento do KC-46, futuro avião-tanque da Força Aérea, 808 milhões para melhorar os componentes do supercaça F-22A “Raptor” e 292 milhões para a projeção de um novo caça-bombardeiro estratégico stealth.

Verbas bilionárias são destinadas a grandes e pequenas aeronaves sem piloto UAV para espionagem e lançamento de bombas e mísseis, já amplamente empenhados no Afeganistão, Iraque, Líbia, Paquistão, Somália e Iêmen. O orçamento de 2013 prevê uma despesa de 1,2 bilhão de dólares para seis novos RQ-4 “Global Hawk”, Hawks Northrop Grumman Global, 3 para abastecer a Marinha no âmbito do programa Broad Area Maritime Surveillance e 3 para a Otan para a AGS (Alliance Ground Surveillance), o novo programma de vigilância terrestre da aliança atlântica, cujo centro de comando e controle será instalado na base siciliana de Sigonella.

O Departamento da Defesa pediu ao Congresso autorização para comprar 43 drones hunter-killer com mísseis “Hellfire” produzidos pela General Atomics, ao custo total de 1,9 bilhão de dólares. Desses, 24 serão do tipo MQ-9 “Reaper” (28 horas de autonomia e possibilidade de transportar bombas GBU-Paverway), os restantes 19 na versão mais avançada MQ-1C “Grey Eagle” (36 horas de autonomia). O US Army receberá 234 mini-aviões sem piloto RQ-11 “Raven” produzidos pela AeroVironment (valor de 184 milhões de dólares).

O exército terá a possibilidade de potenciar o próprio parque de helicópteros graças ao financiamento de três programas distintos ao custo total de 3,6 bilhões de dólares. O primeiro cobrirá a compra de 10 novas aeronaves de ataque Boeing AH-64 “Apache” e a modernização de outros 40 já em dotação do mesmo modelo (Northrop Grumman e Lockheed Martin). O segundo será para a compra de 25 novos meios de transporte Boeing CH-47 “Chinooks” e modernização de outros 19. O terceiro para a compra de 59 helicópteros multifuncionais UH-60 “Black Hawks” (produtor Sikorsky). Outros 272 milhões serão utilizados para adquirir 34 helicópteros leves UH-72 produzidos pela EADS North America. 

“Especialmente no Afeganistão, pela sua particular condição ambiental, há uma tremenda demanda de helicópteros por parte das forças terrestres”, explicou o general Peter Chiarelli do Exército dos Estados Unidos. Está programado o fornecimento de 28 helicópteros de ataque Bell H-1 ao Corpo de Marines (852 milhões de dólares).

Quase 11 bilhões de dólares foram pedidos pelo Pentágono para financiar a compra ou a pesquisa e desenvolvimento de novos sistemas de guerra terrestre. Trata-se especificamente do “Joint Light Tactical Vehicle”, aeronave leve para o patrulhamento e comboio de escolta para cenários como o do Afeganistão e que será produzido a partir do final deste ano pela General Dynamics (116,8 milhões de dólares); do caminhão de transporte de meios táticos “MTV” da Oshkosh Corporation (1.471 unidades a um custo total de 377,4 milhões ); do meio pesado M1135 Stryker Nuclear, Biological and Chemical Reconnaissance Vehicle (NBCRV) da General Dynamics para a vigilância e detecção de riscos NBC (58 unidades ao custo de 332 milhões). A General Dynamics poderia receber 74 milhões para modernizar os tanques M1 “Abrams”.

O maior percentual das despesas de guerra para 2013 é destinado à Marinha de guerra (156 bilhões de dólares). Entre os programas mais importantes está a aquisição de cinco bimotores Northrop Grumman E-2D “Hawkeyes” para a vigilância marítima e a defesa das unidades de superfície (1,2 bilhão); de 26 caças embarcados Boeing F/A-18E/F “Super Hornets” (2,2 bilhões); de 12 aeronaves para guerra eletrônica Boeing EA-18 “Growler” com decolagem de porta-aviões. A Marinha de Guerra dos EUA comprará também 33 novos caças para adestramento (trata-se dos chamados “T-6”) para o qual concorre também a italiana Alenia Aermacchi, (286 milhões) e 37 helicópteros multifuncionais Sikorsky MH-60 “Seahawk” (1,33 bilhões de dólares). 3 bilhões e 200 milhões de dólares serão destinados aos 13 primeiros patrulhadores marítimos de última geração P-8 “Poseidon” destinados a substituir progressivamente os velhos P-3C “Orion”. Também o “Poseidon”, como o “Global Hawk” e o “Reaper” encontrarão hospitalidade na base de Sigonella.

Outros 22 bilhões e meio de dólares serão destinados ao lançamento de novas unidades navais e submarinos. Em particular, a Marinha comprará dois caças torpedeiros da classe “Arleigh Burke” (3,5 bilhões de dólares) e quatro navios de combate de superfície “LCS” (Littoral Combat Ship). Na realização deste último, concorrem dois consórcios “internacionais” dirigidos respectivamente pela Lockheed Martin (com possíveis subcontratações pela italiana Fincantieri) e a General Dynamics-Northrop Grumman. 

No programa está também o trabalho para completar a unidade naval veloz para o transporte de tropas e meios “Joint High Speed Vessel” (191 milhões) e do porta-aviões CVN 21 da nova classe “Gerald R. Ford” (966 milhões), gigante de 320 metros e 104.000 toneladas acionado por dois reatores nucleares A1B 320, que poderá embarcar até 75 caças. A Marinha depois pediu 4,3 bilhões para comprar dois moderníssimos submarinos nucleares hunter-killer da classe “Virginia” (General Dynamics e Northrop Grumman) e 1,6 bilhão de dólares para reparar o porta-aviões “Abraham Lincoln”.

Estão previstos 8 bilhões de dólares para os programas de hipermilitarização do espaço, quase tudo contratado com a empresa Lockheed Martin, os mais relevantes dos quais dizem respeito ao desenvolvimento do sistema de raios infravermelhos “Space Based Infrared System” (950 milhões) e do sistema de satélites “Advanced Extremely High Frequency” (786 milhões, incluída a instalação da estação MUOS em Niscemi); ou a aquisição de quatro sistemas de lançamento “United Launch Alliance Evolved Expendable Vehicles” (1,7 bilhão) e de dois 2 satélites GPS III (1,3 bilhão).

Graças ao orçamento de 2013, o Departamento da Defesa poderá dar um forte impulso ao desenvolvimento dos chamados planos nacionais de “defesa de mísseis balísticos”. A despesa prevista é de 9,7 bilhões de dólares, dos quais 1,3 bilhão para completar a produção de 29 interceptores SM-3 Block 1B “Standard-Missile” da Raytheon; 777,7 milhões para o desenvolvimento do programa “THAAD” (Terminal High Altitude Area Defense) para a interceptação no espaço de “possíveis ameaças de mísseis contra as tropas dos EUA, as forças aliadas a população civil e a infraestrutura crítica”; 763 milhões para comprar à Raytheon 84 interceptores terra-terra “Patriot” PAC-3; 401 milhões para aviar a substituição do sistema antimísseis “Patriot” com o novo sistema de defesa aérea de médio alcance “Medium Extended Air Defense System” (MEADS) a realizar no âmbito da Otan (hoje só a Itália e a Alemanha se declararam disponíveis à parceria com os Estados Unidos). 

Por último, mas não menos importante, o Pentágono pediu 903 milhões de dólares para desenvolver o sistema de defesa com base terrestre “Ground-Based Midcourse Defense” da Boeing, que será administrado pela agência militar nacional de mísseis.

Para o municiamento de mísseis a curto e médio alcance, o Pentágono prevê gastar até 10,2 bilhões de dólares. As principais encomendas dizem respeito às novas bombas de pequeno diâmetro (216 milhões); 180 mísseis ar-ar guiados por radar AI-120 AMRAAM da Raytheon (423 milhões); 314 mísseis de infravermelho AIM-9X também da Raytheon (200 milhões); 157 mísseis ar-superfície “Joint Standoff” da Lockheed (248 milhões); 4.678 munições Raytheon para ataque direto (133 milhões).

Com a aprovação do orçamento, o exércitro poderá adquirir 400 mísseis terra-ar de curto alcance “Javelin” de produção britânica (86 milhões) e 1.794 sistemas de lançamento de foguetes “Guided Multiple Launch Rocket Systems” da Lockheed Martin (382 milhões), enquanto a Marinha poderá dotar-se de 192 novos mísseis de cruzeiro “Tomahawh” da Raytheon (valor de 320 milhões de dólares) e do sistema de mísseis balísticos “Trident II” da Lockheed Martin (1,5 bilhão).

Para cortar verdadeiramente as despesas militares, segundo a administração Obama, será necessário esperar os próximos cinco anos, ainda que seja presumível que se limitará a ajustes e adiamentos entre rubricas orçamentárias, evitando o máximo possível prejudicar os recursos para o sistema de armas. As novas linhas guias do Pentágono, apresentadas no início de janeiro, delineando estas perspectivas de revisão do orçamento, privilegiando em particular as intervenções estratégicas da Marinha e Aeronáutica no Oriente Médio e no Oceano Pacífico.

“As forças militares serão menos numerosas mas mais ágeis, flexíveis, prontas e tecnicamente avançadas”, explicou o secretário da Defesa, Leon Panetta, por ocasião da apresentação da previsão para 2013. Sempre segundo Panetta, “em 2017, o exército dos Estados Unidos sofrerá uma redução de 547.000 a 490.000 homens, enquanto o Corpo dos Marines sofrerá um corte de 182.000 unidades”. Ao final, serão eliminadas oito brigadas de rápida intervenção, duas das quais hoje hospedadas na Alemanha, contudo, será duplicado o número de militares do exército acantonados em Vicenza. Mas para além dos “bons” propósitos da administração dos EUA, no próximo ano o pessoal à disposição das quatro forças armadas sofrerá uma redução de apenas 1,5%. Permanecerão operativos 1,4 milhão de militares, sempre mais do que eram em 2001 antes dos atentados de 11 de setembro e da declaração de guerra global ao “terrorismo” internacional.

Fonte: www.marx21.it

Tradução da Redação do Vermelho

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