segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

À guerra do capital, respondemos com luta social!

Por Ângelo Alves
Quanto mais a economia mundial é empurrada para uma espiral recessiva mais as classes dominantes concentram e centralizam capital e poder. Desenvolve-se assim uma escalada de guerra contra os direitos dos trabalhadores e dos povos, contra a democracia, a soberania e a paz.


Na segunda-feira (23), em antecipação à divulgação das suas previsões económicas, o FMI acenava com o cenário de uma grande depressão a nível mundial similar à dos anos 30. No dia 17 de Janeiro, o economista chefe das Nações Unidas entrou numa sala lotada de jornalistas para a apresentação das previsões econômicas da ONU e pediu desculpas pelas "más notícias". Pois o relatório afirmava que "a economia mundial está à beira de uma outra grande recessão".

Assim o é, e o fulcro do problema está na tríade capitalista. Os dados relativos ao desempenho econômico nos EUA confirmam uma situação explosiva e apontam para a possibilidade de desenvolvimentos abruptos durante o ano de 2012. No Japão, os dados divulgados relativamente ao ano fiscal 2011-2012 confirmam a contração do PIB em - 0,3% num quadro de manutenção de uma gigantesca dívida pública (200% do PIB). 

Por sua vez, na Europa, depois de várias cimeiras "históricas" e nas vésperas de mais um Conselho Europeu "decisivo", o cenário dificilmente poderia ser pior. Na Grécia – país com uma dívida crescente que atinge já 162% do PIB (350 mil milhões de euros), com uma contração do PIB de -7,5% e com uma taxa oficial de desemprego de 18,2% – a bancarrota descontrolada é adiada em função das necessidades do grande capital financeiro.

Na Espanha a situação econômica é igualmente arrasadora: previsão de quebra no PIB de -1,7% em 2012 e uma taxa de desemprego oficial de cerca de 21%. A possibilidade do país vizinho poder vir a ser a próxima vítima da "ajuda" da troika não pode ser posta de lado. A Itália vê-se com uma gigantesca dívida e com a previsão de uma recessão econômica em 2012 (-0,3%). A Irlanda continua mergulhada na estagnação econômica e regista uma taxa oficial de desemprego de 14,5%. A situação portuguesa não é excepção e a notícia do Wall Street Journal de que Portugal poderá ser alvo de um segundo pacote de resgate diz quase tudo sobre o "bom caminho" do nosso País.

Por sua vez, na Alemanha, o seu Banco Central já confirmou o cenário de recessão na primeira metade de 2012. No entanto isso não impede nem que as célebres agências de rating continuem a afirmar que para a Alemanha "tudo", nem que o capital continue a comprar dívida alemã a taxas de juro negativas ou nulas, ou seja, pagando para pôr o seu capital a salvo (como se de o aluguel de um cofre forte se tratasse) na possibilidade de implosão do euro – um cenário cada vez mais real.

Que fazer?

Mas, e perante este diagnóstico, o que fazem os responsáveis por esta crise? Insistem exatamente nas mesmas políticas e tentam ir mais longe na sua imposição à força. 

Por um lado fazem nascer o pacto fiscal cozinhado entre Alemanha e França. Um pacto de agressão contra os trabalhadores e os povos da Europa, parido do conluio entre governos, instituições da UE e capital financeiro e abençoado pelo FMI. Um pacto que acentuará vertiginosamente o caráter já profundamente reacionário e antidemocrático da União Europeia, concentrará ainda mais o poder econômico e político, espezinhará o que resta da soberania dos povos e não dará resposta a nenhuma questão que hoje se coloca às economias europeias e muito menos à profunda crise social na Europa.

Por outro lado, abre-se todas as frentes de batalha contra os trabalhadores numa autêntica guerra cujo objetivo é fazer regredir a Europa séculos em termos de direitos laborais, sociais e civilizacionais. Depois de Portugal, é a vez de na Itália, em Espanha e na Grécia estarem em marcha simulacros de negociações com vista a envolver o sindicalismo reformista no ataque generalizado ao mundo do trabalho, tentando isolar aqueles que resistem e não se rendem ao crime anti-social organizado.

Simultaneamente desenvolve-se as frentes ideológica e militarista. Os comentadores e experts desdobram-se em declarações e artigos que por baixo do pano do situacionismo tentam salvaguardar o essencial, ou seja o sistema. Os tambores de guerra soam mais alto no Médio Oriente e evidenciam o caráter imperialista de blocos como a UE.

Mas a campanha mediática que sustenta a deriva militarista já não consegue esconder nem o embate crescente entre as potências imperialistas e os chamados países emergentes, nem o caráter decadente das potências que continuam a ver na guerra um dos instrumentos para manter o seu domínio.

O mundo está de facto mais instável, inseguro, e perigoso. Estamos perante uma reação do imperialismo que, como a realidade o demonstra, aprofunda ainda mais as causas da crise e faz estalar as contradições do sistema. É a crise estrutural do capitalismo em rápido desenvolvimento e a luta de classes em aprofundamento. E a ela há que responder com luta, dura e tenaz. 

Por isso, dia 11 de Fevereiro todos à Praça do Comércio! A Praça que nesse dia será do povo, da luta e do futuro! 

*Ângelo Alves e da Comissão Política do Partido Comunista Português.

Fonte: Avante!

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