Por Caio Botelho
Há cerca de um mês,
Marcelo Guimarães Filho (MGF) estava sendo reeleito para a presidência do
Esporte Clube Bahia em um processo no mínimo polêmico. Marcada por
irregularidades no Conselho Deliberativo do Clube (a quem cabia eleger o
presidente), a eleição chegou a ser suspensa graças a uma decisão judicial,
tendo sido retomada apenas no dia seguinte. Candidato único, MGF foi reeleito
por unanimidade para um mandato de mais três anos.
Entretanto, se esse
episódio serviu para alguma coisa, foi para evidenciar que a áurea moderna do
jovem presidente, que encanta alguns torcedores, não resiste a uma análise um
pouco mais profunda sobre a verdadeira realidade de um dos mais tradicionais
clubes de futebol do país.
Os defensores de
Marcelinho, entre os quais alguns honestos tricolores, debitam na conta do
atual presidente o fato de o Bahia ter voltado à elite do futebol brasileiro
depois de sete longos anos fora da primeira divisão. Ter conquistado uma vaga
na Sul Americana de 2012, então, foi comemorado quase como um título, já que a
última competição internacional que o Bahia participou foi a Libertadores da América de 1989.
Essas conquistas foram
muito importantes, disso ninguém duvida e nem contesta. Mas a alta dose emocional
que compõe esse esporte que é o futebol nos prega algumas peças e, graças a
essa – muitas vezes justa – emoção, ficamos um pouco irracionais e deixamos de
ver as coisas à luz da razão.
O Bahia voltou à Série
A? Muito bom! Mas foi o modelo de gestão que Marcelinho representa que nos
afastou da elite durante esses sete anos. Nos classificamos para a Sul Americana?
Ótimo! Mas ficamos até a penúltima rodada lutando contra o rebaixamento, sem
contar que apenas dois clubes ficam na “zona do nada”, ou seja, nem vão pra
Libertadores ou Sul Americana, e nem descem para a 2ª Divisão.
Além do mais, o
retorno conquistado em 2010 ocorreu graças a uma média de público de fazer
inveja a qualquer clube europeu: "a torcida é o nosso maior
patrimônio", quantas vezes ouvimos isso, não é mesmo? O acesso foi
conquistado graças a um time guerreiro que, mesmo com muitos problemas
salariais, foi contagiado por essa torcida e deu o sangue para superar as
limitações técnicas e conseguir ficar entre os quatro primeiros da Série B
daquele ano.
Portanto, comemorar os
avanços não significa tapar o sol com a peneira.
As gestões de
Marcelinho e seus antecessores (todos representantes do mesmo projeto) mancham
a brilhante história do Bahia com ilegalidades, arbitrariedades, truculência,
falta de democracia e de transparência.
No Bahia de MGF, os
funcionários e jogadores estão com salários atrasados e sequer receberam a
parcela que teriam direito do 13º, gerando rumores sobre a possibilidade de
greve no Fazendão no final do ano passado, rapidamente descartada pela direção
do clube.
Mas espera aí, não foi
justamente em 2011 que o Bahia teve uma das maiores arrecadações de sua
história? Não foi essa mesma direção que usou e abusou do argumento de que os
"salários estavam em dia" para justificar a permanência de MGF no
comando do clube, assegurando a necessária "estabilidade"? Tem alguma
coisa errada nessa história.
Aliás, tem muitas
coisas erradas na história dos últimos anos do Bahia. MGF trata esse Clube, que
desperta a paixão de milhões de torcedores, como quintal de sua casa e palanque
para alçar cargos eletivos – não é segredo pra ninguém que Marcelinho,
ex-deputado, pretende candidatar-se em 2012, e para isso utiliza descaradamente
os veículos de comunicação oficiais, a exemplo do site e do twitter,
para fazer propaganda pessoal.
As últimas eleições
para presidente, realizadas em dezembro do ano passado e citadas lá no começo
do texto, merecem um capítulo a parte. MGF, que prometeu abrir o Clube e
promover eleições diretas, não ficou satisfeito em não cumprir com a sua
palavra e ainda protagonizou um dos mais vergonhosos processos eleitorais da
história do Bahia.
Quem podia votar? 324
conselheiros que ninguém sabia ao certo quem eram, pois a lista era guardada a
sete chaves pela direção do Clube. Sabe-se apenas que a imensa maioria estava inadimplente
e não poderia exercer o direito ao voto. Pra piorar, 58 membros do Conselho
foram arbitrariamente substituídos, poucas semanas antes da eleição, com uma
simples canetada do presidente. Ou seja, ele escolhe quem vai elegê-lo.
As irregularidades
eram tantas (e seria impossível transcrever todas aqui) que os grupos
organizados da oposição, como a Revolução Tricolor, a Associação Bahia Livre e
o Movimento Unidade Tricolor, decidiram corretamente não montar chapa. Se o
fizessem, estariam legitimando um processo ilegítimo.
Já as eleições para o
Conselho Deliberativo, em janeiro deste ano, ocorreram praticamente na clandestinidade. Nem sequer o
site do Bahia divulgou a sua realização e 226 sócios elegeram uma chapa com 400 membros (?). Porque será que eles não tem interesse em divulgar o processo
eleitoral do fórum que, dentre outras importantes atribuições, elege o presidente?
A presidência de
Marcelo Guimarães Filho tem de antidemocrática o que tem de incompetente. Fez
diversas contratações duvidosas em 2011 e até o presente momento não conseguiu
satisfazer a torcida com as novas contratações para 2012. Onde, afinal de
contas, está indo parar as dezenas de milhões de reais arrecadados por ano? Infelizmente, os
torcedores não fazem ideia para onde vai a dinheirama que entra porque não
existe prestação de contas.
A torcida do Bahia,
reconhecida nacionalmente como uma das mais apaixonadas do Brasil, precisa ficar
atenta à realidade do Clube. O Bahia grande que todos nós queremos passa
necessariamente por eleições diretas e por mais democracia, por transparência
nas suas contas e por uma gestão de futebol profissional. Só assim voltaremos a
disputar a ponta dos Campeonatos nacionais e conquistaremos a terceira estrela.
Mas para isso, precisamos escrever novas páginas na história do Esquadrão, das
quais poderemos nos orgulhar em um futuro próximo.
À Marcelo Guimarães
Filho e seus comparsas, só posso dedicar os versos de Chico Buarque: “apesar de
você, amanhã há de ser outro dia”.
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