sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Gestão “moderna” de Marcelo Guimarães no Bahia promove eleições clandestinas e atrasa salários.


Por Caio Botelho

Há cerca de um mês, Marcelo Guimarães Filho (MGF) estava sendo reeleito para a presidência do Esporte Clube Bahia em um processo no mínimo polêmico. Marcada por irregularidades no Conselho Deliberativo do Clube (a quem cabia eleger o presidente), a eleição chegou a ser suspensa graças a uma decisão judicial, tendo sido retomada apenas no dia seguinte. Candidato único, MGF foi reeleito por unanimidade para um mandato de mais três anos.

Entretanto, se esse episódio serviu para alguma coisa, foi para evidenciar que a áurea moderna do jovem presidente, que encanta alguns torcedores, não resiste a uma análise um pouco mais profunda sobre a verdadeira realidade de um dos mais tradicionais clubes de futebol do país.

Os defensores de Marcelinho, entre os quais alguns honestos tricolores, debitam na conta do atual presidente o fato de o Bahia ter voltado à elite do futebol brasileiro depois de sete longos anos fora da primeira divisão. Ter conquistado uma vaga na Sul Americana de 2012, então, foi comemorado quase como um título, já que a última competição internacional que o Bahia participou foi a Libertadores da América de 1989.

Essas conquistas foram muito importantes, disso ninguém duvida e nem contesta. Mas a alta dose emocional que compõe esse esporte que é o futebol nos prega algumas peças e, graças a essa – muitas vezes justa – emoção, ficamos um pouco irracionais e deixamos de ver as coisas à luz da razão.

O Bahia voltou à Série A? Muito bom! Mas foi o modelo de gestão que Marcelinho representa que nos afastou da elite durante esses sete anos. Nos classificamos para a Sul Americana? Ótimo! Mas ficamos até a penúltima rodada lutando contra o rebaixamento, sem contar que apenas dois clubes ficam na “zona do nada”, ou seja, nem vão pra Libertadores ou Sul Americana, e nem descem para a 2ª Divisão.

Além do mais, o retorno conquistado em 2010 ocorreu graças a uma média de público de fazer inveja a qualquer clube europeu: "a torcida é o nosso maior patrimônio", quantas vezes ouvimos isso, não é mesmo? O acesso foi conquistado graças a um time guerreiro que, mesmo com muitos problemas salariais, foi contagiado por essa torcida e deu o sangue para superar as limitações técnicas e conseguir ficar entre os quatro primeiros da Série B daquele ano.

Portanto, comemorar os avanços não significa tapar o sol com a peneira.

As gestões de Marcelinho e seus antecessores (todos representantes do mesmo projeto) mancham a brilhante história do Bahia com ilegalidades, arbitrariedades, truculência, falta de democracia e de transparência.

No Bahia de MGF, os funcionários e jogadores estão com salários atrasados e sequer receberam a parcela que teriam direito do 13º, gerando rumores sobre a possibilidade de greve no Fazendão no final do ano passado, rapidamente descartada pela direção do clube.

Mas espera aí, não foi justamente em 2011 que o Bahia teve uma das maiores arrecadações de sua história? Não foi essa mesma direção que usou e abusou do argumento de que os "salários estavam em dia" para justificar a permanência de MGF no comando do clube, assegurando a necessária "estabilidade"? Tem alguma coisa errada nessa história.

Aliás, tem muitas coisas erradas na história dos últimos anos do Bahia. MGF trata esse Clube, que desperta a paixão de milhões de torcedores, como quintal de sua casa e palanque para alçar cargos eletivos – não é segredo pra ninguém que Marcelinho, ex-deputado, pretende candidatar-se em 2012, e para isso utiliza descaradamente os veículos de comunicação oficiais, a exemplo do site e do twitter, para fazer propaganda pessoal.

As últimas eleições para presidente, realizadas em dezembro do ano passado e citadas lá no começo do texto, merecem um capítulo a parte. MGF, que prometeu abrir o Clube e promover eleições diretas, não ficou satisfeito em não cumprir com a sua palavra e ainda protagonizou um dos mais vergonhosos processos eleitorais da história do Bahia.

Quem podia votar? 324 conselheiros que ninguém sabia ao certo quem eram, pois a lista era guardada a sete chaves pela direção do Clube. Sabe-se apenas que a imensa maioria estava inadimplente e não poderia exercer o direito ao voto. Pra piorar, 58 membros do Conselho foram arbitrariamente substituídos, poucas semanas antes da eleição, com uma simples canetada do presidente. Ou seja, ele escolhe quem vai elegê-lo.

As irregularidades eram tantas (e seria impossível transcrever todas aqui) que os grupos organizados da oposição, como a Revolução Tricolor, a Associação Bahia Livre e o Movimento Unidade Tricolor, decidiram corretamente não montar chapa. Se o fizessem, estariam legitimando um processo ilegítimo.

Já as eleições para o Conselho Deliberativo, em janeiro deste ano, ocorreram praticamente na clandestinidade. Nem sequer o site do Bahia divulgou a sua realização e 226 sócios elegeram uma chapa com 400 membros (?). Porque será que eles não tem interesse em divulgar o processo eleitoral do fórum que, dentre outras importantes atribuições, elege o presidente?

A presidência de Marcelo Guimarães Filho tem de antidemocrática o que tem de incompetente. Fez diversas contratações duvidosas em 2011 e até o presente momento não conseguiu satisfazer a torcida com as novas contratações para 2012. Onde, afinal de contas, está indo parar as dezenas de milhões de reais arrecadados por ano? Infelizmente, os torcedores não fazem ideia para onde vai a dinheirama que entra porque não existe prestação de contas.

A torcida do Bahia, reconhecida nacionalmente como uma das mais apaixonadas do Brasil, precisa ficar atenta à realidade do Clube. O Bahia grande que todos nós queremos passa necessariamente por eleições diretas e por mais democracia, por transparência nas suas contas e por uma gestão de futebol profissional. Só assim voltaremos a disputar a ponta dos Campeonatos nacionais e conquistaremos a terceira estrela. Mas para isso, precisamos escrever novas páginas na história do Esquadrão, das quais poderemos nos orgulhar em um futuro próximo.

À Marcelo Guimarães Filho e seus comparsas, só posso dedicar os versos de Chico Buarque: “apesar de você, amanhã há de ser outro dia”.

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